sábado, 12 de setembro de 2020

FACAS TRAMONTINA COMMANDER. ANOS 80.


FACAS DE SOBREVIVÊNCIA TRAMONTINA SÉRIE COMMANDER.



Neste artigo vou me referir somente às facas da década de 1980 que possuíam cabos ocos.

Facas de sobrevivência
Inspiradas na série de filmes Rambo onde o ator Silvester Stalone protagoniza um herói de guerra conflituoso que resolve dar o troco por agressões sofridas pelos representantes da lei em uma cidadezinha do interior e, na sequência do filme, aceita a missão de resgatar soldados americanos abandonados no Vietnam. Bom, não vou me alongar nisso porque estes filmes são mundialmente conhecidos, portanto, tudo o mais que eu puder falar a respeito é redundante. O que nos interessa nessa saga é que o herói (ou anti-herói) é um especialista em sobrevivência, como é dito pelo próprio coronel que o treinou, no momento em que ele cita que “seu garoto” é capaz de sobreviver somente com uma faca ou com as mãos nuas se fosse preciso, viver da terra, comer coisas que fariam uma cabra vomitar se disso dependesse a sua vida. O fato é que, como  especialista que é, a única arma que usa é uma faca com cabo oco que possibilita levar no interior desse cabo, pequenos itens que são de valor muito grande para quem está em uma situação de sobrevivência. Esta faca que acabou se transformando em um ícone do personagem e gerou toda uma enorme família de ferramentas para a finalidade exclusiva de auxiliar a pessoa que as portarem nos trabalhos de campo para a manutenção da vida.
Como não poderia deixar de ser, uma enorme quantidade de empresas do mundo todo acabou se deixando influenciar por essa tendência de época e cada uma, ao seu modo, acabou lançando produtos com estas características que inundaram o mercado nos anos 80 e 90. Como era de se esperar, nem todos estes produtos tinham a qualidade necessária para servirem aos fins propostos e isso acabou gerando, nos consumidores desses produtos, uma grande repulsa por equipamentos do gênero mas, algumas empresas como Buck (norte americana), Marto (espanhola), Aitor (também espanhola), Smith & Wesson (também norte americana), além de uma infinidade de cuteleiros que fabricavam peças de forma custom ou semi-custom para uma variada gama de clientes, as fabricaram com design excelente e de forma robusta e bem acabada.
Embora que tardiamente, era natural que alguma empresa nacional também percebesse o nicho de mercado e entrasse na corrida para oferecer esse tipo de produto para um eventual público brasileiro que, embora não tenhamos tanta tradição por consumir inovações nesta área pois a maioria dos consumidores de produtos de cutelaria no Brasil ainda prefere facas nos tradicionais formato sorocabano ou gaúcho, mas uma parcela significativa dos amantes das atividades ao ar livre estava ansioso por produtos desse gênero e, sendo assim, a gaucha TRAMONTINA se incumbiu desse encargo.
Usando desenhos de facas já existentes e sem se preocupar muito com as diferenças entre o público e o tipo de região onde essas facas seriam usadas, a TRAMONTINA lançou três modelos de facas todos com desenhos de lâminas copiadas de facas lançadas em outros países, algumas dignas de serem copiadas, outras não, mas com a tradicional qualidade e materiais "made in Brazil".
Vejamos um pouco de cada uma delas.

COMMANDER I.



Em meados de 1987 a Tramontina colocou no mercado a faca Commander I que foi a primeira de uma série de três facas do gênero lançadas pela empresa destinadas à esse tipo de público. Pra não fugir à regra, como bons representantes que são da nossa indústria, mais uma cópia descarada de um produto de produção norte americano e, pra ajudar, ainda escolheram um produto de extrema falta de qualidade e critério para fazer a cópia pois a faca que eles copiaram, é uma das piores facas do gênero já criada até os dias atuais. A faca original, que recebia o nome genérico de “The Survivor” foi massivamente divulgada nos Estados Unidos na década de 80 e teve um grande número de compradores que se sentiram enganados pois, além de um material de baixíssima qualidade para a lâmina e cabo, tinha um design que hoje é repudiado por qualquer sobrevivencialista ou usuário de lâminas medianamente sério. Em um vídeo recente de um youtuber norte americano que foi testar a referida faca, esta não aguentou sequer a primeira paulada quando foi usada para battoning pois, além do cabo ser feito de plástico, a porção que fica para dentro do cabo não passava dos 2cm e essa base do cabo ainda era vazada (ou seja, não era maciça), mas cheia de reentrâncias que enfraqueciam ainda mais a peça.
Pra quem quiser assistir o vídeo do teste, ainda tem um bônus pois o youtuber mostra o vídeo da propaganda que era feita na televisão norte americana à época do lançamento da "The Survivor", ai vai o link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=l8xmxadK6aM&t=630s

Vamos à descrição da “The Survivor”:
Lâmina: com aproximadamente 3mm de espessura, em formato clip point com a ponta indo até cerca de 1/3 do comprimento da lâmina, serra com dentes triangulares no dorso com as pontas dos dentes muito mal acabados que é realmente impossível cortar qualquer coisa com ela, esta serra culmina em um abridor de garrafas no pé da lâmina que adentra pela lâmina indo terminar próximo à guarda, este abridor de garrafas invade a lâmina até quase 1/3 da sua largura deixando a lâmina extremamente fragilizada neste ponto, de tal forma que é impensado usar essa lâmina para qualquer tipo de atividade que possa forçar esse ponto pois (caso o cabo fosse feito de algum material mais resistente), é certo que irá ficar com um cabo sem lâmina nas mãos.
O cabo: feito de algum tipo de plástico sem qualquer qualidade, não resiste ao menor esforço e é muito comum facas desse modelo que tiveram seus cabos partidos em atividades corriqueiras. A tampa é algo assim que nos deixa com uma pergunta recorrente... _Mas, pra que diabos esse projetista desenhou um trambolho desse para abrigar uma bússola? A resposta é que a bússola é esférica e para caber na tampa do cabo, esta tampa tem que ser enorme. Bom, a ideia de uma bússola esférica e com elemento líquido que possibilita à esta bússola se posicionar nivelada não importando o quanto a faca esteja inclinada é realmente uma grande ideia e poderia ser usada por mais empresas, mas com um tamanho condizente. O kit de sobrevivência que vem nesses equipamentos é sofrível, pra não dizer inútil. A bainha era de um couro sintético de baixa qualidade que possuía um pequeno bolso na parte frontal que servia para a guarda de uma pequena pedra de afiar de qualidade bem razoável, em comparação ao aço que ela teria que desbastar.



Acima, foto da "The survival" com bainha de nilon e na versão com cabo preto. O kit de sobrevivência não é exatamente o mesmo, mas haviam outras verões que eram mais semelhantes.


Nesta versão da "The survival" com cabo camuflado e lâmina preta se pode notar a semelhança até mesmo no kit de sobrevivência, embora a Tramontina tenha ignorado os fósforos, mas todo o resto está lá.

_Mas então, se a faca de origem é tão ruim assim, porque a Tramontina resolveu copiar isso?
A resposta é lógica e por três motivos, primeiro, porque essa faca vendeu muito nos EUA (e deixou muita gente descontentes, logicamente). A segunda é porque o seu sistema de construção era simples e, consecutivamente barato. O último motivo é a total falta de critérios e desconhecimento por parte dos diretores da empresa sobre qual é a real utilidade de uma faca como estas.
Já devidamente apresentada a faca na qual os “projetistas” da Tramontina se basearam para “criar” a Commander I, não vou me alongar no desenho desta última pois creio que todos os aspectos desse fator já foram devidamente esclarecidos, então vou tratar somente dos aspectos diferenciais da nossa réplica tupiniquim.



Acima, foto da Commander I com a sua bainha de couro. Embora eu não tenha a certeza de que este couro seja legítimo pois logo à baixo do bolso da pedra de afiar podemos ver uma ondulação na camada superficial dessa bainha, é onde existe um furo por onde a ponta da faca vazou em algum momento quando o antigo proprietário se descuidou.
Notem também a etiqueta colada no grind da lâmina onde diz: "Cromo Molibdênio - Fabricação especial". o que já faz entender que essa faca pertence ao período de melhor fase de fabricação destas facas, onde, além do melhor material e têmpera, também era dado uma melhor atenção ao acabamento. 

A lâmina: Feita a partir de uma chapa de 4mm de espessura (já depois de polida), seguiu o formato clip point contendo a serra e o abridor de garrafas exatamente como a sua predecessora, é fabricada em um aço da classe 420 com baixo teor de carbono onde a dureza se aproxima dos 50ºpontos na escala Rockwell Cº, ou seja, bem a baixo do que os 60 possíveis em um 440C, por exemplo e que também já é superado nos dias de hoje por vários tipos de inox que foram desenvolvidos dos longínquos 1980 para cá.
Só para se ter um parâmetro, vou relatar um ocorrido comigo quando de um acampamento que fiz com uma Commander I:  Naqueles tempos eu achava que com uma faca destas eu não precisava de mais nenhuma outra ferramenta no campo, então, logo depois de comprar a minha, marquei na mesma semana um acampamento de pescaria com alguns amigos e, logo no primeiro dia, depois de armar umas varas e linhadas na beira do rio, fui cortar alguns gomos de bambu para fazer uma mesa de acampamento. Não mais do que 5/6 facadas em um bambu e eu percebi que a faca não estava mais entrando na madeira e, ao inspecionar, pude notar que o fio da faca havia entortado, mas muito mesmo. Nesse ponto eu não sei se a minha faca saiu de fábrica sem ser devidamente temperada ou se realmente o aço era muito ruim, mas o fato é que o acampamento terminou mais cedo e, ao chegar em casa, desamassei a lâmina com um martelo, re-afiei-a isso foi feito à frio e com muita facilidade, e só a usei para cortar alguma carne ou coisas macias até que, por fim, dei-a a um amigo de aventuras da época que se encantou com a aparência dela.
A lâmina de todas as facas da série Commander são presas ao cabo através de um pino esculpido na base da lâmina onde é usinada uma rosca e que, quando inserido no cabo, protubera em seu interior onde é rosqueado e prende-se ao cabo. No caso da Commander I eu nunca tive problemas quanto à soltura da lâmina, talvez devido ao fato de que eu não podia usá-la para cortar nada duro a golpes, portanto, não havia vibrações que pudessem soltar a porca em seu interior. A fenda de encaixe no cabo não era algo assim tão justo, mas também não era folgada como em uma das  Commander III que eu tenho, então, eu acredito que esse encaixe tenha uma menor vibração e movimento e seja mais funcional que a da Commander III.
Outros pontos desfavoráveis: Andar com a faca na bainha sem abotoar a braçadeira do cabo é impossível pois o balanço do cabo/lâmina é inexistente, sendo muito mais pesado o cabo, o que faz com que a faca fique sempre querendo virar com o cabo para baixo e cair da bainha.
A tampa do cabo da Commander I é muito, mas muito pesada e feita no mesmo zamac que as tampas do restante das facas da série. A bússola não é esférica como na sua predecessora, mas plana como a maioria das demais, apenas que é maior, o que lhe confere maior precisão também. A bainha das primeiras facas Commander I eram feitas de couro legítimo e um couro muito bom, diga-se de passagem, o que foi substituído por couro recomposto nos anos subsequentes, o que é, de inúmeras formas inferior ao couro natural. Por último, as bainhas eram feitas de uma espécie de papelão revestido com um corvim muito fino.
Nota a favor: O cabo das Commander (sejam elas do modelo I, II ou III), é feito de um duralumínio de excelente qualidade e eu não tenho notícias de um cabo destes que tenha sido quebrado, por mais esforços que tenham sido colocados sobre eles. Eu tenho um cabo de uma commander III que ganhei a muito tempo e fiz uma lâmina pra ele com cerca de 23 cm e que eu utilizei pra tudo que se possa imaginar (até mesmo para arrancar mandiocas usando-o como alavanca) e acabei quebrando essa lâmina (só porque eu bati com ela com muita força e de lado não com o fio), mas o cabo está intacto até hoje.
O acabamento das Commander I também é muito bom pois o polimento é o espelhado, embora pareça que a chapa que eles receberam não é algo assim tão lisa pois é possível ver que mesmo depois do polimento se note pequenas ondulações características de falta de retificação adequada na superfície da mesma.
Outra coisa a ser mencionada é a agradável sensação ao se empunhar a faca. Por mais que as pessoas que não gostam de facas de cabo oco argumentem sobre a falta de estabilidade que os cabos cilíndricos tem quando se utiliza para shoping ou macheteio, uma faca com esse porte e esse formato de lâmina não é realmente indicado ou adequado para essa atividade (na verdade, é por isso que se esperava uma melhor qualidade de serra), mas para atividades de bushcraft como entalhes em madeira, preparo de alimentos e até mesmo de esfola de animais, ela é extremamente agradável de se portar, e é por isso que eu digo que é uma faca boa pra pesca mas não pra sobrevivência, onde se tem que extrair o máximo de uma lâmina.
Efeito colecionador: É perfeitamente plausível que alguns colecionadores comprem e mantenham em suas coleções algumas destas facas, inclusive com as caixas originais pois realmente é um marco na indústria cuteleira brasileira e, a partir desse ponto os consumidores começaram a tomar maior consciência da qualidade extremamente diferenciada que os produtos vendidos no exterior tem em relação ao nosso.
Embalagem: Inicialmente as Commander I vinham em uma caixa de papelão com uma foto da faca sobre uma placa de madeira com grama ao fundo e algumas miudezas de pesca esparramadas ao lado. Essa caixa era algo bem simples e em duas partes na qual a inferior tinha um encaixe para a faca e a parte superior era encaixada por fora fechando o conjunto, mas  no fim da produção a Tramontina passou a fornecer estas facas em blisters  transparentes de modo que a faca ficava exposta para que o comprador pudesse vê-la através da camada de plástico. A meu ver, não que as caixas anteriores fossem uma maravilha, mas o blister tinha que ser cortado pra se ter acesso à faca e, assim, nunca mais daria pra se guardar a faca nele novamente, uma vês que esta fosse retirada da embalagem.


Esta é a caixa original na qual a Commander I vinha embalada inicialmente e, como se pode ver pela foto da embalagem, parece que vem muito mais coisas dentro do cabo do que realmente vem.

Nesta foto, podemos ver como a faca vinha encaixada dentro da caixa, através de algumas dobras em um revestimento interno que acomodavam a mesma em sua posição.

Acima, podemos ver a Commander I em seu blister original do final de sua produção. Duas coisas podem ser observadas: a primeira é que é impossível lacrar o blister novamente depois de aberto pois este era lacrado por prensagem a quente; a segunda é que a borda da bainha tem uma espécie de acabamento, o que nos leva ao ultimo modelo destas facas, onde a bainha era feita de papelão revestido por um corvim de baixa qualidade que amolecia com muito pouco uso e não podia nem sonhar em passar perto de umidade.

Publicações sobre armas e cutelaria haviam a muito pouco tempo surgido e mostrado aos nossos consumidores a qualidade e a funcionalidade de facas feitas não somente no exterior mas aqui mesmo através da cutelaria artesanal e nomes como Roberto Gaeta, Antal Bodolay e Milton Padilha, começaram a ecoar como sinônimo de artistas que poderiam criar facas com infinitas vantagens, tanto de materiais quanto de design e acabamento em relação aos pobres mas, caros produtos da indústria nacional. Empresas como a Paz & Pazinni que tinham cuteleiros artesanais de renome internacional trabalhando com aços de altíssima qualidade passaram a fornecer facas semi-custom, inclusive de sobrevivência a preços condizentes, mas estes artesãos tinham uma dificuldade grande que era a divulgação e distribuição das suas facas a um público cada vês mais ávido por esse tipo de produto, mas que não sabia como adiquirí-los e qual a qualidade que tinham pois, como sempre, os produtos da indústria nacional nunca tiveram descrições claras quanto a material, dureza, e outras qualificações possíveis, o que sempre deixa os possíveis compradores na dúvida quanto ao que lhe está sendo oferecido.
Kit de sobrevivência: O kit de sobrevivência desta faca acaba sendo o mesmo de toda a série Commander. Aqui a Tramontina mostra um alto grau de amadorismo. Na minha opinião, copiar um determinado produto é ruim, mas torna-se um defeito menor se você o fizer com materiais bons e um acabamento bem executado e detalhes mais criteriosos, bom, a Tramontina perdeu ponto novamente ao escolher os itens que seriam inseridos no cabo da sua primeira faca de sobrevivência. Dentro do frasco de sobrevivência, que é uma cópia não exata de outro projeto importante dos anos 70/80, a Explora Survival, possui uma parede muito grossa, deixando assim um espaço muito pequeno para a guarda dos itens de auxílio à vida, e tem as tampas mal dimensionadas para esta cápsula, e o material do qual são feitas é péssimo, pois costuma rachar com o tempo de forma que as tampas costumam cair com frequência e se perderem com o uso. Os itens colocados no interior desta cápsula são apenas 06:
1- Dois anzóis, embora nas fotos promocionais da faca apareçam quatro anzóis, ainda eram de tamanho errado para a finalidade a que se destinam.
2- Um pequeno rolo de linha de nylon 0,30 enrolado em uma placa de madeira ou plástica que toma um enorme espaço dentro da diminuta cápsula;
3- Duas chumbadas de tamanho e peso muito grandes para o kit em questão;
4- Uma agulha para costura;
5- Dois alfinetes destes de prender fraldas;
6- Um rolo de um fino cabo de aço que tem um terminal em forma de olhal em cada extremidade para servir de serra, péssimo diga-se de passagem;

Nesta foto, vemos o kit de sobrevivência embutido dentro da cápsula. Como se pode ver, fora a apertada cápsula existente nas facas da Tramontina e os fósforos existentes na sua inspiradora, não muda em nada o parco e quase inútil kit de sobrevivência. Isso faz pensar se o preço pago por ter um cabo oco vale a pena para se transportar essa quantidade e qualidade de itens.

Um pouco de subsídio: Dentro das prioridades de sobrevivência de um ser humano estão os cinco pilares da sobrevivência que são:
01- Abrigo;
02- Fogo;
03- Água;
04- Alimento;
05- Orientação.
Estas cinco necessidades básicas do sobrevivente não são priorizadas nesta ordem propriamente pois irá depender muito da região do planeta onde você estará, mas é na intenção de conseguir facilitar a obtenção de cada um destes objetivos que o kit deve ser elaborado e, na maioria das vezes, o fogo torna-se a prioridade mais urgente, desta forma, um dos primeiros itens a ser incorporado a um kit de sobrevivência é um meio de obtenção de fogo, tal qual fósforos (e nesse caso é quase uma unanimidade que os fósforos à prova de tormenta são os únicos que atendem a necessidade mais imediata de um sobrevivente de forma mais garantida) e uma barra de pederneira seriam os ideais. Aqui eu pergunto aos Srs. leitores, Embora hoje em dia esse material seja relativamente fácil e barato para se conseguir, nos anos 80/90 esse tipo de material, aqui no Brasil era algo como uma “mosca branca dos olhos azuis”, ou seja, não existiam mesmo, mas para a Tramontina, que tem muitas conexões internacionais, qual a grande dificuldade em conseguir isso e adicionar ao kit de uma faca como estas?
As pastilhas para purificação de água, os famosos clorins, também eram raros de se conseguir e, na época tinham o nome de “Micropur” e eram caríssimos, e se a Tramontina os comprasse em grande escala sem embalagens ou blisters, com certeza os conseguiria a preços realmente irrisórios.
Caso a Tramontina tivesse incorporado estes três pequenos itens ao seus kits de sobrevivência, pensem no impacto psicológico que isso teria e que status se alcançaria com os clientes. Será que isso agregaria tanto custo assim em seu produto.
Pra encerrar as divagações sobre o kit de sobrevivência, por fora da extremidade do cabo e preso pela tampa, duas argolas idênticas às de prender chaveiros que servem para se prender às extremidades do cabo de aço para transformá-lo em serra e que tornam o isolamento da parte interna do cabo quase que impossível pois o “O” ring que vedaria esta parte do cabo não se comprime totalmente por causa destes anéis.
A bússola: Essa importante parte de qualquer faca de sobrevivência que se preze, no caso da Commander I, não é lá das piores coisas que eu já vi. Presa ao pomo pelo lado de fora, em um compartimento que possui uma tampa vazada que é rosqueada a esse pomo e deixa a bússola à mostra mas dá uma razoável proteção à esta contra choques pois a bússola fica em um nível mais recuado em relação à extremidade do pomo. Embora não possua elemento líquido para possibilitar o amortecimento e lubrificação no eixo e tem a sua agulha um tanto quanto trêmula e demorada para a obtenção dos pontos cardeais, mas a precisão é muito aceitável e uma das melhores que eu já vi para esse tipo de equipamento, talvez por conta do diâmetro maior.
Na parte frontal da bainha existe o tradicional bolso para a guarda da pedra de afiação que no caso da Commander I pode ser considerada a melhor de toda a série pois tem dureza e acabamento bem condizente com o tipo de lâmina que irá afiar.


O tradicional bolso para a guarda da pedra de afiar nas facas de sobrevivência com bainhas em couro também está presente na Commander I.


Resumindo tudo: A faca em si não ficaria tão ruim se não fosse a falta de critério da empresa em escolher materiais para a lâmina de qualidade inferior e um kit mais elaborado, a falta de conhecimento dos técnicos e dos responsáveis pela aprovação do projeto ao permitirem a colocação da reentrância para abridor de garrafas invadindo a lâmina e a serra de péssima qualidade e acabamento tornaram o projeto da lâmina inapropriado para as funções a que se destinava. Esse é claramente um daqueles casos em que para obter maior lucro a empresa deu um tiro no pé usando um design copiado e materiais de baixa qualidade e não investindo em pesquisa e desenvolvimento adequados.

Commander II



Na década de 80 o exército americano resolveu abrir um concurso para a escolha da faca de dotação oficial para os seus soldados. Participaram desse concurso as marcas KA-Bar (norte americana), Camilus (norte americana), Gerber (norte americana), Buck (norte americana), Marto (espanhola), Aitor (espanhola), Puma (alemã), entre outras tantas facas que pretendiam um contrato milionário para fornecimento de milhares de peças de cutelaria ao exército do tio Sam. A buck participou com dois modelos, ambos desenhados pela empresa Phrobis a pedido da própria Buck, um deles é a faca que nos interessa nesse artigo, que é a Buckmaster e outro que foi a grande vencedora da disputa para aquela ocasião que se tornou a baioneta M-9. Como eu disse antes, a faca que nos interessa nesse artigo é a Buck Buckmaster que entra exatamente nesta categoria de faca de cabo oco e serra no dorso que não venceu a competição para a dotação do exército americano por dois motivos: Preço e peso.
Esta faca, criada pela Buck no meio dos anos 80 e inspirada na faca Rambo I, criada pelo cuteleiro Jimi Lile para o ator Silvester Stallone para o filme onônimo, tinha algumas diferenças básicas que são: A lâmina de menor tamanho que a do filme (embora a Buck tenha lançado alguns modelos de lâmina de igual ou até maior do que as do filme, porém mais estreita em sua largura e mais grossas na secção), possuía uma serra para madeira até o início da ponta e, nesta ponta, possuía uma serra afiada que é usada para cortar material congelado ou cordas de nylon mas que também serve muito bem para cortar pão. O cabo não possuía a corda enrolada a ele, era de aço inoxidável e tinha anéis recartilhados intercalados com reentrâncias côncavas para dar maior firmeza à mão. Possuia uma guarda bastante grossa e curvada nas extremidades e com dois furos com rosca onde eram rosqueados dois pinos metálicos que, segundo o fabricante transformava a faca em um arpão para escalada. A bainha era rígida e com dois pequenos bolsos que eram acoplados à esta e que permitiam a guarda de, além de uma bússola do tipo Silva, de maior tamanho, mais alguns utensílios de auxílio à sobrevivência. Esta faca foi extremamente reverenciada nos EUA e teve uma tiragem de venda de altíssima quantidade devido ao grande apreço que o público americano tinha pela fabricante pois os seus produtos eram, realmente, de excelente qualidade.
A faca que nos interessa neste trecho do artigo é uma cópia descarada da Buck Buckmaster. Se não levarmos em consideração as proporções mal estabelecidas, o fato de o cabo ser de alumínio e não de aço e a grossura da lâmina ser de 4mm em vez de 6 como na sua inspiradora, poderemos observar uma grande semelhança entre o desenho de ambas.


Foto de uma Bick Buckmaster. Á baixo vemos uma régua em polegadas para se ter uma ideia das proporções da referida faca. São aproximadamente 5" (12,7 cm) de cabo  e 7 1/4" (18,4 cm) de lâmina 

Nesta foto vemos a buckmaster com a sua caixa e manuais originais. Chamo a atenção para as asas na bainha que servem para a passagem das aletas do bolso em cordura (visto à direita na foto), onde se guarda a bússola (vista à esquerda) e outros itens de auxílio à sobrevivência, tais como a serra garrote (visto logo à baixo da bússola).

A faca Buck Buckmaster é tão reverenciada não só em seu pais de origem como em muitos outros, a tal ponto de se ter sido escrito um livro sobre o seu desenvolvimento, modelos fabricados entre 1984 e 1985, quantidades de cada modelo, etc., de autoria do escritor Richard Neyman.


A lâmina: Não sei o que, mas algo mudou na dureza da lâmina e eu acho que, percebendo a péssima qualidade do modelo anterior, a Tramontina, além de trocar o tipo de aço, passou a utilizar um processo de têmpera chamado por eles como “gelofort” e que é conhecido na indústria como “tratamento sub-zero”, que nada mais é do que um banho em nitrogênio líquido após a têmpera e que, realmente, confere à lâmina uma dureza mais alta sem, contudo, causar a fragilização do aço. Não sei se eles passaram a fabricar a Commander I nesse aço e com esse processo também, mas eu acredito que sim.
Ao período de lançamento dessa faca eu não quis comprar uma exatamente pela péssima experiência que tive com o primeiro modelo dessa coleção, então, não pude constatar as evidentes melhores qualidades do material, porém, ao vê-la e manuseá-la, já pude constatar um melhor balanço em relação lâmina/cabo pois o cabo desse modelo não tinha a “batata” da tampa que tinha o modelo Commander I, mas sim uma tampa de cabo extremamente similar ao de uma faca espanhola chamada Explora Survival que havia sido criada por um venezuelano de grande renome na área da sobrevivência (o Dr. Charles Brewer Carias), e fabricada pela Marto (Espanha). De cara eu gostei de muitos aspectos dessa faca e, devido à inexistência de compêndios sobre o assunto, principalmente sobre equipamentos do exterior, eu não conhecia e nem tinha referência alguma sobre a Buck Buckmaster para saber as motivações da sua criação. Mas já desde essa época eu achava os pinos rosqueáveis à guarda uma ideia bem fora da casinha (e hoje acho muito mais ainda).
Quanto à lâmina eu via com extrema cautela pois esta tinha um vazado na ponta que se assemelhava em muito ao da mesma explora Survival que tinha a função de ser acoplado à bainha para a transformação do conjunto em um cortador de arames, muito embora esse sistema não seja de criação do Dr. Brewer ou da Marto pois já era utilizado em baionetas na segunda guerra mundial, e as Buck/Probis M-9 também possuem, mas o sistema mais parecido com o da Commander II é realmente o da Explora survival.



Acima podemos ver a lâmina da Commander II acoplada ao pivot correspondente ao final da bainha, o que transforma o conjunto em um muito eficaz cortador de arames.

Outra característica copiada da Explora Survival é a serra de dorso da lâmina da Commander II. Essa serra é realmente uma das melhores que eu tenho conhecimento para essa finalidade, embora, para ser efetiva esta serra tem que ser muito bem executada e o acabamento da lâmina tem que ser realizado antes da confecção da serra, senão, cria-se uma quebra de quinas nos dentes da serra que os torna ineficazes. Eu acho que a Tramontina não sabia disso no início da fabricação das Commander II, logo, é muito difícil encontrar alguma delas que realmente funcione como deve.
A bainha: Opa, adivinha de qual outra faca a bainha da Commander II é copiada? Pois é, da Explora Survival, mas, até que enfim, uma tacada acertada. Embora uma cópia quase exata da bainha da Explora Survival, eu vi nesse ponto uma enorme vantagem como acréscimo de utilidade para a Commander II. Sem dúvida um detalhe que poderia fazer toda a diferença quando um soldado (do exército ou da polícia) está no campo e precisa transpor uma cerca ou uma tela de arames, ou para usar como gancho para se retirar algum utensílio do fogo ou qualquer outra utilidade que condiga com a situação. Esta bainha agora não é mais de couro e passou a ser de plástico injetado e a Tramontina não revela mas creio que algum tipo de polipropileno, de qualquer forma, muito resistente e tem um formato de perfil baixo, o que é de grande valor quando se toma algum escorregão dentro de uma mata fechada e se cai sobre a faca e esta não tem como furar a bainha e ferir o portador ou, para o caso de algum soldado, tem que rolar no chão e uma faca de perfil mais alto trava o corpo. O sistema de fixação da bainha ao cinto também é uma cópia do sistema da Explora Survival, porém, de qualidade inferior mas, mesmo assim, funcional.
Em síntese, a Tramontina deu um grande passo trazendo um produto, embora uma cópia, mas de configuração bastante atualizada.


Commander II e sua bainha de polipropileno. Quando eu efetuei a compra desta faca, a mesma ainda possuía o selo de fabricação especial em sua lâmina, infelizmente este caiu e perdeu-se, o que tira um pouco o brilho da faca como peça de coleção, mas em nada influi se for utilizar. Pode-se notar o brilho nas bordas da serra, o que denota que foi polida e arredondo os cantos que deveriam ser vivos, inutilizando-a para a finalidade que foi criada para atender.

Na parte traseira da bainha, como de praxe nesse tipo de faca, existe uma pedra de afiar de qualidade bem ruim pois é muito grosseira e dura para o tipo de afiação que se espera fazer em uma faca com estas características, mas, enfim, ela está lá. Essa pedra é protegida por uma extensão da correia do passador de cinto para não roçar na roupa do usuário, o que, em dadas circunstâncias pode causar ferimentos graves em se tratando de ambientes inóspitos. Essa correia possui, ainda, um pequeno bolso na sua parte superior que é usado para guardar os pinos metálicos da guarda quando não estão em uso.


Acima a pedra de afiar da Commander II. Pode-se ver uma fita de velcro colada na bainha que serve para manter a "pala" protetora no seu lugar quando a faca estiver na cintura e esta estiver abaixada.

Nesta foto, podemos ver o pequeno bolso para a guarda dos pinos de acoplamento na guarda para transformar a faca em um gancho de escalada.

Kit de sobrevivência: O kit de sobrevivência continua o mesmo e, portanto, os comentários sobre ele também.

Esta é a faca com seu kit de sobrevivência original

Nesta foto eu tentei mostrar a bússola do interior do cabo que, embora seja seca, também tem boa qualidade para bússolas dessa classificação e todas as Commanders que eu conheço, mesmo depois de todos esses anos em que foram fabricadas, ainda tem suas bússolas funcionais, então, ponto para a Tramontina nesse quesito. Uma outra coisa que se deve prestar a atenção nesse equipamento é a graduação extremamente bem feita, o que possibilita uma ótima qualidade de navegação, inclusive de declinação, mesmo para um equipamento tão pequeno

Embalagens: A embalagem inicial das Commander II era imensamente melhor do que as Commander I e era composta por um bloco de isopor injetado que possuía reentrâncias de acomodação da faca e da bainha de forma separada. Esse bloco de isopor era envolvido por uma caixa de papelão de boa qualidade, o qual possuía uma tampa também do mesmo tipo de papelão que encaixava-se por cima e por fora do primeiro conjunto. Na parte superior da caixa, ou tampa dessa caixa, vinha impresso a foto da faca e nas bordas era impresso uma textura camuflada. Um grande avanço em matéria de embalagem da Tramontina foi a indexação de um pequeno manual com a indicação das funções da faca, embora descrito de forma muito resumida e em um linguajar bem pobre, mas com fotografias auto explicativas.

Esta foto foi retirada da internet pois eu não tenho a caixa da minha Commander II para fotos de melhor qualidade, porém, serve para mostrar como era o "berço" de acomodação da faca na caixa.

Nesta outra foto, podemos ver como era a apresentação do manual e da parte externa da caixa.


Commander III.




Cópia “fiel” da faca Explora Survival, embora com qualidade muitas vezes inferior, mas, enfim, quando não se encontra ou não se tem dinheiro para comprar uma Explora Survival autêntica e, mesmo por que a maioria de nós, simples mortais não vamos nunca utilizar todo o potencial que uma Explora Survival pode nos oferecer, então, uma Commander III irá nos atender com sobras, guardadas as devidas customizações que teremos que fazer. Vou começar pela lâmina, como sempre.


Faca Marto Brewer  Explora Survival, desenhada pelo explorador venezuelano Charles Brewer Carias e fabricada pela espanhola Marto, da lendária cidade de Toledo. Projetada e executada por quem sabe o que está fazendo.

A lâmina: É feita de um aço que desconheço, mas que teve o incremento de cromo e vanádio em um determinado período, o que melhorou imensamente a capacidade de corte e a facilidade de re-afiação. O primeiro modelo que eu comprei é realmente muito bom em matéria de manutenção de fio e capacidade de corte, com certeza devido ao formato hollow ground dos grinds que a Tramontina usa para essa linha de facas, também tem um polimento muito bem executado, cantos bem vivos tanto no contra-fio quanto na serra, porém...  a qualidade das impressões na lâmina é péssima, tanto que o da minha faca desapareceu em cerca de três  meses de uso não muito pesado, e o pior defeito que uma faca do gênero poderia ter, a lâmina se solta do cabo. Algumas das Commander III que eu vi (a minha primeira Commander III é uma delas), tem uma abertura para encaixe da lâmina no cabo com 5mm de grossura e a lâmina tem 4mm de grossura, ou seja, fica 0,5mm de cada lado da lâmina vazio, o que causa a soltura da lâmina pelo excesso de vibração transmitido na junção cabo/lâmina. Um outro defeito grave que veio na minha faca e eu não sei se isso foi uma exclusividade da minha faca, é o fato de a rosca que é executada na espiga veio muito mal feita, tanto que ao se apertar a porca até o final da rosca ainda assim esta ficava frouxa e, mesmo calçando a arruela que existe sob a porca, com outra arruela metálica e uma de couro ainda assim, esta se soltava com pouquíssimo trabalho de corte de madeira. O que ajudou a dar uma melhor fixação foi a execução da usinagem de rosca até o fim do pino/parafuso na espiga da lâmina, o que me custou dois cocientes porque o aço temperado dessa espiga realmente melhorou imensamente, mas o que realmente resolveu foi a inserção de duas finas placas de aço inoxidável com cerca de 0,4mm de espessura, uma de cada lado da lâmina na porção onde ela penetra no cabo e bastante cola epox do tipo Araldite que, além de fixar a lâmina e as finas chapas de aço, ainda colou a arruela e a porca, evitando que a vibração pudesse soltá-las. Depois desse “artifício técnico” eu já judiei bastante da minha Commander III e a lâmina está lá, firme e forte e, acreditem, eu já sentei o porrete sem dó nela depois desse “remendo”.
Uma pena que a Tramontina não usou métodos de gravação mais eficientes para as utilidades da lâmina pois os métodos utilizados são tão ruins quanto pintura em aço inoxidável, ou seja, desbotam até sozinhas. A Tramontina tratou essas gravações com tanto desdem que, sequer deu a atenção devida a elas em seu manual, preferindo tratar com subjetividade pra que o usuário não passe a reclamar a perda da utilidade depois desta simplesmente sumir.

Sinais internacionais de pedido de auxílio impressos na lateral da lâmina da Commander III.

Régua em centímetros impresso na parte plana do contrafio da lâmina. O manual da Commander III não revela, mas essa régua é projetada para ser usada para medir distâncias aproximadas pelo método das milésimas (um pequeno detalhe que a Tramontina ignorou).


Transferidor impresso na lateral da lâmina da Commander III. Além de servir para se calcular inclinação de aclives e declives, também serve como sextante de improviso para se descobrir a longitude do usuário através da inclinação do sol no meio dia solar aparente (outro detalhe que a Tramontina ignorou)

Manual: A Tramontina, ao copiar o projeto Explora Survival, não copiou também o manual da mesma faca que explica de forma detalhada a utilização de todos os recursos que foram estudados e colocados de forma criteriosa e engenhosa neste projeto pelo seu idealizador, o Dr. Brewer, sendo muito simplista no seu "manual" de utilização e descrevendo cada recurso com o mesmo linguajar pobre que já havia utilizado na Commander II.


"Quem tem Commander conhece a linguagem dos sinais", "Quem tem Commander está sempre afiado" , uma tentativa de exaltação exagerada das qualidades sem nenhum aprofundamento ou ensinamento de uso do seu próprio produto.

Ainda seguindo a mesma tendência repetitiva "Quem tem Commander não fica perdido", "Quem tem Commander sabe informar seus passos", "Quem tem Commander sabe medir suas aventuras", (esse foi realmente de doer).

Quem dera a gravação dos símbolos e graduações da lâmina real tivesse essa qualidade de impressões que se vê nas fotos do manual não é.




Nas últimas fotos, podemos ver o lado oposto do folhetim/manual com as utilidades da Commander III.
Ah! Meu Deus! Quanto amadorismo.

Bainha: A bainha da Commander III é quase que uma cópia da bainha da Commander II, exceto pelo terminal metálico de entrada, pois a da Commander II é em metal cromado e tem um recorte plano e da Commander III é em alumínio e tem o recorte inclinado. Ambas as facas tem uma pedra de amolar na parte traseira da bainha, que é encoberto pela correia de nylon do passador de cinto e ambas possuem o pequeno bolso nessa correia que, na Commander II é usado para guardar os dois pinos rosqueáveis e na Commander III serve para a  guarda de algum espelho de sinalização, se seguir a utilização da sua predecessora, Explora Survival.


Nesta foto vemos o bolso escondido atras da bainha e que serve também de proteção para a pedra de afiação.

A pedra de afiação segue os padrões da Commander II, dura e grosseira.

Posteriormente, eu adquiri uma outra Commander III que estava à venda no mercado livre a preços bem atraentes e, por último, outra que estava ainda na caixa, com manual e tudo o mais. Destas três Commander III que eu tenho, a que veio com a melhor gravação foi a primeira, que se desgastou com pouquíssimo uso, as demais, são quase invisíveis e isso porque, nenhuma delas foi usada realmente. As duas últimas Commander III que eu comprei, tem a pintura do cabo fosca, enquanto que a primeira era lisa e eu percebi que estas duas tem o cabo mais bem ajustado às lâminas que a primeira mas a tinta é de bem pior qualidade. O acabamento da serra também é de pior qualidade nestas duas últimas que na primeira e elas realmente não serram nada em comparação com a primeira que tem uma serra bem eficiente.

Nesta foto, cada faca com sua respectiva bainha. A primeira de cima é a que está completamente mint,ou seja, sem riscos ou arranhões, como saiu da fábrica, a do meio foi uma compra de ocasião e a inferior é a do meu uso a mais de 15 anos.

Da esquerda para a direita, a mint, a compra de ocasião e a de uso. Notem a total falta de gravação na faca da direita. Exceto a de utilização, as demais nunca foram afiadas, estão sem uso, mas a do meio está um tanto descuidada pois tem aranhões e riscos. As duas primeiras facas tem a pintura dos cabos feita com tinta fosca, a última com tinta brilhante. Creio que está última era da última leva de facas fabricadas.

        O kit das Commander é exatamente o mesmo em todas, por isso, na minha faca de uso, eu joguei fora tudo o que o compunha e montei um outro com muito mais critério.
1- Pederneira – Foi a primeira coisa que adicionei ao kit. Coloquei uma de excelente qualidade com 5mm de grossura. Porém, como se pode ver na foto a baixo, tive que retirá-la devido à deterioração que já começava a se instalar.
2- Fósforos à prova de tormenta – Eu inseri quatro fósforos de boa qualidade para os dias em que o uso da pederneira seja impossibilitado por vento ou muita umidade.
3- Anzóis – Eu escolhi cerca de 20 anzóis dourados da marca Maruri de excelente afiação, sendo quatro do menor tamanho que a marca fabrica, quatro de um tamanho levemente maior e mais doze em três tamanhos maiores mas todos fabricados para peixes de pequeno tamanho, no máximo até 3 kg pois entendo que é nessa categoria que é mais fácil encontrar alimentos.
4- Snaps – Eu coloquei três snaps destes que se usam para fazer trocas rápidas em iscas artificiais. Neste caso, os snaps tem uma outra serventia pois quando se deseja fazer com que a linha de nilon deslize por dentro de um passador, em caso de fazer-se alguma armadilha, isso funciona de forma muito eficiente.
5-Girador - Esse acessório, além de impedir que a sua linha fique torcida, caso apanhe algum peixe durante a noite e este fique se debatendo antes de ser retirado, o que pode causar a ruptura da linha, ainda serve como um peso à mais, em caso de as chumbadas serem pouco.
6-Alfinetes de pressão – Eu coloquei 2 pequenos alfinetes de pressão (daqueles que se usa para prender fraldas em crianças) e, pra quem não entende o porquê de objetos como estes em uma cápsula de sobrevivência, experimente fazer um acampamento onde o zíper ou o botão da sua calça se quebram, um botão da sua camisa se perde ou algo do gênero. 
7- Argola de chaveiro pequena - Este pequeno anel tem, também, inúmeras serventias, tais como a confecção de gatilhos para armadilha ou a união de cordeis e linhas quando se quer fazer esticadores, usando o famoso nó carioca ou nó de caminhoneiro.
8- Linha de pesca – Eu  enrolei por fora da cápsula cerca de 15m de linha 0,25 para preparar linhadas com os demais anzóis.
9- Chumbadas – Eu inseri 5 chumbadas do menor tamanho que eu encontrei, algo em torno de 3mm de diâmetro, pois entendo que é melhor colocar várias chumbadas em uma linha pra dar o peso certo do que ter uma chumbada muito pesada a uma determinada situação.
10- Agulhas de costura – Eu coloquei três agulhas de costura de tamanho médio já com cerca de 1m de linha de costura de nylon já passada no seu olhal e enrolada em torno de cada uma. Pra quem quer saber, uma com linha verde, outra com linha preta e outra com linha branca. Quando você coloca a linha enrolada na agulha, em primeiro lugar esta linha já está inserida na agulha e em segundo, ela ocupa menos espaço que se você enrolar a linha em algum pequeno bastão para passar a linha na agulha depois e, em terceiro lugar, em uma situação de sobrevivência, onde você esta fraco e possivelmente trêmulo, colocar uma linha em uma agulha é algo bem irritante, potencialmente impossível.
11- Pinça – Devido ao meu trabalho, eu consegui algumas finas barras de aço inoxidável que, se dobradas dão pinças excelentes. Para fabricá-las eu precisei aquecer o ponto de dobra pois senão elas quebravam. O fato é que eu fabriquei várias destas pinças e escolhi uma que que ficou melhor e inseri na cápsula.
12- Lâmina de bisturi - É quase uma unanimidade se colocar dentro de cápsulas de sobrevivência lâminas de bisturi, mas a maioria das pessoas realmente não sabe a real serventia que um objeto como estes pode ter em uma situação extrema. Em minhas saídas ao campo, principalmente em alguns locais repletos de caraguatás (planta da família do abacaxi que tem a folha cheia de espinhos), é comum ficar com as mãos cheias de espinhos dessa planta que se quebram com facilidade dentro da pele e acabam por infeccionar apos algum tempo. Pois bem, as lâminas de bisturi são muito mais eficientes que agulhas para retiradas desses espinhos ou de farpas de madeira que costumam enterrar-se nas mãos quando trabalhamos armadilhas, abrigos ou lenha para fogueira.
13- Pastilhas de clorin – Na parte posterior da cápsula de sobrevivência existe um espaço de menor tamanho com tampa de pressão onde eu coloquei 4 comprimidos de cloro ativo para a purificação de água que literalmente viraram pó devido ao agitar dessa cápsula. Nada bom mas, anteriormente eu havia colocado comprimidos de permanganato de potássio, que também servem para a purificação de água, mas em muito maior quantidade e isso torna uma intoxicação por erro de dosagem muito fácil de ocorrer, então eu troquei pelo clorin que tem que ser substituído a cada seis meses mas é mais seguro. estes comprimidos venceram e se desmancharam então, está na hora de comprar mais pra substituir.
Para conhecimento geral, um comprimido de permanganato de potássio serve para ser diluído em 20 liros de água para efeito de purificação para consumo ou para banho, em caso de se ter problemas de alergia com picadas de inseto.
14- Lixa para fósforos – Como na Marto original, que possui uma pequena lixa para riscar fósforos colada na parte externa da tampa da cápsula que veda o espaço para as pastilhas de purificação, eu fiz o mesmo, só que na tampa que veda o corpo maior da cápsula.
15- Lupa – Na tampa oposta à que eu colei a lixa, eu abri um buraco, deixando só o anel de encaixe na cápsula e coloquei uma lente de aumento, a qual eu lixei com muito cuidado até que se encaixa-se sob pressão. Posteriormente eu cometi um erro grave pois, como eu relatei anteriormente, antes de colocar clorin nessa parte da cápsula eu coloquei comprimidos de permanganato de potássio, mas o que eu não sabia é que essa substância solta uma tinta que mancha tudo em que toca e isso acabou colorindo a lente de aumento que era feita de metacrilato pois foi retirada de uma régua de um canivete victorinox que se partiu. Ainda estou à procura de outra para fazer a substituição. Esta lupa pode ser vista na primeira foto à frente da pequena mola que eu coloquei para expulsar a cápsula de dentro do cabo sem ter que ficar chacoalhando.
Para além destas utilidades que são poucas mas de muita valia para quem estiver perdido em algum ambiente hostil, eu utilizei o espaço que existe na “pala” protetora da pedra de afiar (onde na Explora Survival é usada para a guarda de um espelho metálico e nas Commander II é usado para a guarda dos ganchos que são parafusados na guarda), para colocar mais alguns itens:
16- Linha de pesca 0,30mm – Eu coloquei mais 15m de linha de pesca nesse diâmetro para garantir que, se algum peixe de maior tamanho começar a cortar a linha mais fina, eu não ficarei desamparado.
17- Linha de multifilamento de alta resistência, diâmetro 035, que serve tanto para armadilhas quanto para a pesca de algum espécie mais bruto.
18- Eu coloquei mais uma barra de pedenrneira de 8mm nesse bolsinho pois, nesse caso, a pederneira de dentro da cápsula fica como o backup do backup e quando eu precisar acender um fogo eu não preciso tirar tudo que está na cápsula pra ter acesso à pederneira.
19- Bolas de algodão - Como no interior do cabo, na região do parafuso existe um pequeno espaço ao redor do mesmo e, também na tampa, entre a bússola e a cápsula, quando esta está rosqueada ao cabo, eu inseri duas bolotas de algodão que, servirão tanto para a limpeza de algum ferimento quanto como mexas para acender fogo com a pederneira e, como adicional, ainda ajudam a não deixar que a cápsula fique chacoalhando dentro do cabo quando estivermos a machetear alguma coisa.
20- Lâmina de bisturi - Como ainda havia  um pequeno espaço dentro do bolso da bainha,eu coloquei mais uma lâmina de bisturi que, como eu mencionei anteriormente, tem inúmeras serventias.
21- Arame de aço - Eu havia colocado, ainda, nesse pequeno bolsilho da bainha, um pequeno rolo de arame de aço inoxidável, desses que se usa em cercas elétricas domésticas que é realmente fantástico na confecção de armadilhas de laço pois mesmo que o animal consiga ter acesso a ele depois de apanhado e que este possua dentes afiados, dificilmente conseguirá cortá-lo. No momento da foto eu realmente tive uma surpresa ao descobrir que haviam sumido. Mesmo assim eu o estou relacionando pois é algo que pretendo providenciar novamente muito em breve.
22- Paracord - Eu enrolei aproximadamente 4m de paracord 550 preto na parte externa da bainha. O paracord tem inúmeras vantagens sobre outros tipos de cordas pois, além de uma muito maior resistência, tem a possibilidade de ser desmanchado, bastando retirar os filamentos do seu interior (alma) e ainda resta um cordão de excelente resistência para se amarrar abrigos ou coisas do gênero. Nas fotos eu retirei esse paracord para as bainhas ficarem uniforme, mas já o enrolei de novo.




Como se pode ver, é possível se incrementar em muito o equipamento com a adição de coisas simples mas de muito valor para um sobrevivente.

Embalagem: Seguindo o padrão criado para a Commander II, a Tramontina criou uma embalagem de isopor injetado também para a Commander III mas deu uma incrementada nas fotos da parte externa da caixa deixando o produto mais atraente para o consumidor.


Vista da embalagem fechada.

Lateral direita da caixa.

Lateral esquerda da caixa.

Vista superior, tampa e caixa.

Vista superior do isopor injetado com o conjunto faca, bainha e cápsula acomodados juntamente com o manual.

Aspectos técnicos: A Tramontina errou, e muito, ao escolher a forma de fixação dos cabos das facas da sua série Commander, notadamente as Commandert III. No caso da faca da Buck, eu sei que o sistema de fabricação é o mesmo pelo forjamento de um parafuso na espiga, mas esse parafuso, nesse caso, possui ¼” (6,35mm) por causa da lâmina ser muito mais grossa do que as da série Commander, que possuem 4mm apenas, além disso, a abertura do cabo onde a lâmina das Buck se prendem é muito bem feita, com ajustes micrométricos, portanto, o próprio parafuso não está sujeito a outras forças que não a de tracionar a lâmina pra dentro do cabo pois os esforços laterais ficam dissipados no encaixe da espiga no cabo e não no parafuso. Não é o ideal? Creio que não, mas é ainda uma opção mais plausível do que um parafuso de 4mm em um cabo que tem ajustes extravagantes.
No caso da Explora Survival, a qual a Commander III é a cópia, o sistema de fixação é por um pino elástico e a lâmina é encaixada ao cabo com medidas de ajuste de padrão industrial para esse tipo de material e contrapinadas com esse pino que tem a característica de se ajustar com muito rigor à furação e, quando sofre algum esforço muito grande, este pino deforma-se e retorna à sua forma inicial logo em seguida, pois é elástico, mantendo a rigidez do conjunto de forma que a lâmina mantenha-se sempre travada na mesma posição. Esta alternativa foi adotada também para as facas de cabo oco da marca Aitor, também espanhola e eu acompanho publicações escritas ou postadas na internet desde os anos 80 a esse respeito e nunca tive notícias de nenhum equipamento destes em que a lâmina tenha afrouxado ou soltado do cabo.
Porque??? Eu repito, porque a Tramontina não se utilizou deste recurso que é muito mais simples e barato em relação ao processo industrial de fabricação de cada lâmina, em vez de optar pelo mais fraco e mais custoso de se fabricar?
Como técnico em mecânica industrial que sou e trabalhando a mais de 30 anos como projetista de equipamentos industriais, conheço de perto todo o processo de fabricação a que são submetidos os materiais na confecção de facas como estas. No caso das lâminas das facas da Tramontina, é necessário forjar a espiga em forma de parafuso aquecendo-a e batendo (com martelo manual  ou martelete industrial), para que este ganhe um formato arredondado, depois é necessário que se faça uma rosca onde, por processo manual com a utilização de um cocinete, ou em um torno adaptado para esta função, onde é feito o filetamento da rosca, e isso consome, não só máquinas e ferramentas específicas como também mão de obra. No processo de fixação por pino elástico, a lâmina já sai com o formato definitivo, incluindo as furações, a partir da estampa (processo pelo qual a chapa de aço é recortada por um grande “martelo” que tem o formato da lâmina esculpido em  um bloco maciço e um vazado em uma base correspondente e, por cisalhamento recorta a chapa de aço com o formato desejado), sendo assim, eliminando o risco de quebra do pino roscado ao fim da espiga e, consecutivamente da perda da peça, e de todos os custos com mão de obra e desgaste destas ferramentas, ficando somente o processo de instalação e inserção do pino elástico para a fixação destas lâminas ao cabo, e isso se faz em segundos. Contando o tempo de rosqueamento do parafuso da lâmina ao cabo, no momento da montagem, que tem que ser feito por processo manual e deve ser feito por uma pessoa com uma certa habilidade e já devidamente acostumada à esse trabalho, gasta-se cerca de 1 minuto; o processo de forjamento da lâmina, cerca de 5 minutos  (fora o aquecimento da mesma); Não vou considerar também o processo de resfriamento da peça, pois como deve ser feito em série não há a perda de tempo; processo de confecção da rosca, cerca de 10min se for por processo elétrico/eletrônico, 15 minutos se for por processo manual (na melhor das hipóteses, sendo feito por pessoas extremamente treinadas e habilidosas), ao todo: Ou seja, (arredondando), aproximadamente 30 minutos (no mínimo por ser feito em série) de tempo gasto com funcionários, sem contar ferramentas e máquinas que, naturalmente sofrem desgaste. Pode até não parecer muito, mas isso é gasto por peça, e quantas peças destas eram fabricadas por dia pela empresa. Qual a economia que se conseguiria usando um método mais simplificado e muitas vezes mais eficiente e seguro do que o processo em questão.
Os Srs. Leitores entendem agora porque grande parte da nossa indústria não consegue ser competitiva nos mercados exteriores. Podem até entrar nos mercados mais exigentes, mas nunca poderão alcançar valores que sejam tão compensatórios pois não fabricarão produtos que realmente tenham valor de qualidade agregado.
Materiais de qualidade duvidosa, alto emprego de mão de obra (que embora seja muito barata mas, é custo), processos construtivos inapropriados, o que chega a um produto final questionável que não gera o interesse de consumidores mais criteriosos.
Como você explica a um cliente que está havido por um produto de qualidade que o seu produto é caro mas em compensação, você vai ter que dispor de tempo e (+) dinheiro para tomar medidas para que ele não desmonte enquanto você o usa da forma que eles deveriam ter sido fabricados para serem usados? Ou que os itens que vem com ela são totalmente inúteis e que você vai ter que jogá-los fora e elaborar um novo kit em substituição?
Em meu tempo de juventude, dispondo de poucos recursos e quase nenhuma informação a respeito do que era comercializado no exterior, eu possuía uma pequena coleção de facas, quase todas de procedência nacional, algo em torno de umas 30 peças, desde facas antigas a atuais, usadas e novas, artesanais e industriais. A partir do momento em que adquiri algum dinheiro e passei a frequentar o pais vizinho, tendo contato com peças de cutelaria da marca Puma (alemã), Aitor (espanhola), Marto (espanhola) e Gerber (americana), ou comecei a ter contato com publicações como a revista Magnum, Armas de Fogo, Hunter, Tiro Esportivo e algumas outras de breve vida que surgiram no Brasil dos anos 80/90, acabei por dar de presente as facas que possuía. Alguma coisa eu me arrependi de ter me desfeito, tal como a faca “Cougar” de fabricação nacional da Mundial, mas a maioria não me faz a menor falta. Eu sei que uma boa parcela dos que leem este artigo agora podem estar pensando que eu devo ter uma vida abastada e, por isso, não tenho dificuldade em comprar produtos importados e de alto valor comercial. Realmente não é assim. Desde a minha mais tenra infância eu sempre gostei de facas. Isso é uma coisa inerente à família, creio, sendo assim, desde que tive contato com a cutelaria de primeira linha, passei a economizar meus parcos recursos para a aquisição de facas icônicas, notadamente as de cabo oco e os canivetes do tipo suíço (quase que exclusivamente os da marca VICTORINOX), pois vi nesse tipo de lâminas um tipo de equipamento de múltiplas funções que são um verdadeiro salva vidas em atividades ao ar livre, e é por isso que venho adquirindo esse tipo de material desde muito tempo atrás e, com muita economia, deixando por vezes de ir a um cinema ou de ir a um restaurante gozar de uma boa refeição, para economizar para a aquisição de uma ou outra lâmina que tenha a possibilidade de adicionar à minha coleção. O fato é, que exatamente por ter recursos limitados é que aprendi a ter muito critério e analisar muito criticamente de ponto a ponto as peças que entram na minha coleção e costumo testá-las com rigor para saber se são ou não dignas de respeito.
Quanto às Commander, O que posso dizer é que, como peças de coleção são excelentes facas, mas para uso, são equipamentos muito aquém do preço que era ou são cobrados por elas. Antes da Tramontina cobrar esses valores, deveria, pelo menos, ter realizado testes sérios de campo, analisado os resultados e re-desenhado o projeto de forma a reforçar alguns fatores negativos, talvez enviado a algum esportista do ramo (sérios) para análise e crítica ou, ainda, entrevistar policiais e militares que atuam ou dão treinamento nessa área para ajudar no projeto e trazer inovações não cópias. Isso é obrigação quando se trata de respeito aos clientes. As empresas europeias e americanas fazem isso a muito tempo. Porque não se copia a atitude em vez de o produto.
Eu tenho facas Commander em minha coleção porque sou um nacionalista e gosto de prestigiar a indústria nacional, mas a única que uso é a que eu fiz customizações que garantem uma robustez maior ao equipamento, que é a Commander III, mesmo assim, somente em saídas de curta duração como uma tarde, em locais próximos à áreas urbanas e se eu souber que não vou ter que fazer atividades mais duras pois tenho consciência de até onde posso ir com tal equipamento, apesar de saber que até posso conseguir fabricar um abrigo, cortar uma boa quantidade de lenha para fogueira, confeccionar uma lança, fazer armadilhas ou processar algum animal que, por ventura venha a ser capturado (somente em situação de sobrevivência pois respeito a fauna e a legislação  do meu pais). Quanto à orientação, eu creio que não vou precisar dos recursos que a faca trazia impressos na lâmina, embora eu sinta muitíssimo tê-los perdido pois dava maior beleza ao conjunto. Ah! E a guarda em “D”, vocês não sabem a ajuda que isso dá quando se vai limpar uma área espinhosa ou cheia de caraguatás para se abrir uma picada.
 A relação que faço com as Commanders é a de boas  facas de pesca, ou seja, pra limpar um peixe, cortar algumas varas e algumas atividades mais leves e, embora elas tenham ponta bastante apta para se fazer uma lança de pesca ou mesmo de caça, eu não arriscaria usá-la em um rio de fundo pedregoso ou em um animal de porte médio para grande pois mesmo capivaras costumam ficar bastante agressivas quando acuadas ou feridas e já vi relatos de um animal desse ter quebrado uma foice com uma bocada, então, o que não faria com facas como estas. Estando em uma situação de sobrevivência, o item mais precioso que poderemos ter é a nossa faca, portanto, o item que mais devemos cuidar e preservar.
Vou parafrasear um blogueiro norte americano, Don Rearic, que diz que:
“_O homem é um fazedor de ferramentas, então devemos usar essa ferramenta (a faca), para fabricar outras ferramentas (uma lança) e preservar a nossa ferramenta mais valiosa (a faca)”.
Deixei para comentar sobre a Commander I por último pois creio ser o pior projeto, não só porque é mal executada mas porque foi mal planejada desde a concepção. Colocar um abridor de garrafas como aquele no meio da lâmina é muita falta de noção pois enfraquece todo o conjunto. Talvez pra uma faca de pick-nick ou de pescaria para se limpar peixes ou cortar um churrasco, mas não se iludam pois não dá pra confiar nela pra muito mais que isso. Podem me dizer que foi o primeiro trabalho da Tramontina nessa área e que ela estava aprendendo, mas pelo jeito não aprendeu muito nos últimos anos, pois basta ver as facas que eles tem lançado colocando rasgos no meio das lâminas. Eu realmente gostaria que a Tramontina solicitasse a opinião de esportistas sérios desse ramo sobrevivência e bushcraft, mas quem? Basta dar uma olhada em pessoas que postam vídeos sobre o tema e já se aventuraram na criação de algum modelo de faca pra ver as aberrações que tem saído, ou então, as cópias disfarçadas (ou descaradas) e que não lograram sucesso nenhum, então, eu entendo que fica realmente difícil encontrar uma pessoa nesse meio que entenda, não somente de sobrevivência como também de design de produto para oferecer algo prático e bonito ao mercado, e é por isso que eu respeito tanto o Dr. Charles Brewer Carias pois, em matéria de beleza e praticidade ele é o melhor desenhistas que eu já vi.
Bom. Eu sei que o bonde já passou e facas de cabo oco acabaram por cair em descrédito ou mesmo cair do gosto popular, mas a muito que o mercado nacional não nos oferece algo realmente prático e bonito pra atividades de campo. Temos uma indústria forte que exporta seus produtos pra muitos países, mas com um setor de marketing que ignora os praticantes de esportes outdoor e não investe muito em pesquisa e desenvolvimento. Com centenas de milhares de km² de áreas selvagens em nosso território, milhares de praticantes de atividades ao ar livre como a pesca, a caça (agora liberada no caso do javali), camping e bushcraft, quanta oportunidade, quantos campos de prova e quantos clientes em potencial para o desenvolvimento de uma linha inteira de produtos para essas atividades.
Bom! Talvez não valha a pena pra eles gastar energia e dinheiro com o desenvolvimento de produtos nessa área pois o mercado pode não absorver isso, não sei, mas como projetista que sou, sempre tive a opinião de que o mercado não sabe o que ele realmente quer até que alguém com visão mostre a ele opções atraentes a preços competitivos e, que estes produtos tenham sido desenvolvidos para solucionar de forma durável uma dificuldade que ele nem sabia que tinha. A máxima “onde existe uma dificuldade existe espaço para um bom projetista” se aplica nesta situação com toda a sua abrangência.
Vejo com olhos de muita expectativa o fato de a IMBEL ter criado os projetos “IA2” e “AMZ” para os nossos soldados pois, embora também limitados, mas já façam partes de conceitos mais atualizados e tem linhas mais limpas, assim como os vazados que são mais adequados e feitos de forma mais cuidadosas que as antigas facas desta empresa. Os materiais utilizados também são de melhor qualidade, embora a dureza das lâminas seja considerada baixa mas isso foge ao tema da nossa postagem, de qualquer forma, a grande aceitação destas facas talvez façam outras indústrias direcionarem seus produtos de forma similar, com a forma, função e durabilidade se completando.
        Espero ter proporcionado uma boa leitura a todos e,concordando ou não comigo, postem seus comentários de forma respeitosa que, no meu tempo procurarei responder a todos.