Faca Jungle King I - Customização
Eu não sei se é do conhecimento da maioria dos praticantes
de atividades mateiras ou não, mas a grande maioria das facas de sobrevivência
comerciais vem com um kit meio minimalista, isto se levarmos em conta o espaço disponível
para esses kits e, prevendo (pelas empresas) uma utilização genérica para
qualquer ambiente do mundo onde possam ser usadas. Ocorre que, cada indivíduo
tem necessidades únicas e, também, cada ambiente requer um tipo de kit
apropriado para esse meio, por isso ocorre tanta discussão quanto ao que levar
em cada kit nos fóruns e publicações do gênero.
Com as facas da AITOR também não ocorre
nada de diferente, pois como elas foram idealizadas, projetadas e desenvolvidas
para serem vendidas no mundo todo, nada mais natural que colocar nelas algum
tipo de kit que fosse de utilização genérica para qualquer ambiente, desde uma
prosaica pescaria até para um piloto que sobrevoa regiões desérticas (sejam
elas desertos verdes ou de areia) ou, ainda, para equipar as tropas de elite de
algum exército, por mais exigente que possa ser.
Quando eu comprei a minha primeira faca
AITOR nos idos de 1991, eu mantive o kit original por vários anos mesmo este
não sendo exatamente o kit que eu prepararia para uma faca que fosse de meu
projeto porém, com o tempo eu entendi que algumas coisas que eu levava
separadamente em kits aleatórios eu poderia colocar na própria faca e algumas
coisas que estavam lá, talvez eu nunca precisasse utilizar, por mais que em
alguma hipotética situação eu caísse de paraquedas nos mais distantes rincões
da selva amazônica ou no deserto do Kalahari (Tsc. Tsc. Tsc. Nem em sonhos).
Por exemplo, o lápis que ocupa realmente um bom espaço mas não será de nenhuma
serventia se não tiver papel para se deixar uma nota do tipo:
_At. A quem interessar. Sandro Domanski
fazendo uma viagem imaginária sobre o deserto sofremos uma pane no motor do
veículo e morri de sede no dia xx/xx/xx.
Pra mim, esse espaço seria muito mais
bem utilizado colocando-se uma vela dessas de aniversário de criança ou outras
coisas como poderão ver mais à frente.
O kit de pesca também é muito
minimalista e, pra quem já pescou nos rios e lagoas do Brasil sabe a quantidade
de enrosco que temos sob as nossas águas e como isso acarreta na perda de
anzóis, também, nos igarapés da região amazônica a ocorrência de pequenos
peixes que são, na grande maioria das vezes, a fonte de alimentos de mais fácil
acesso e de maior garantia de êxito e, portanto, a necessidade de se ter nesses
kits uma grande quantidade de anzóis de pequeno tamanho. Pra quem é dessa
região amazônica, e sabe a quantidade de chuvas que ocorre em certos períodos
do ano sabe também da quase impossibilidade de se fazer fogo por meios da
fortuna (com atrito de madeira ou o uso de pedras para faísca), mesmo com
pederneira e magnésio é realmente muito trabalhoso e exige muito treinamento e
experiência e, mesmo para quem detém essa habilidade, demanda muito tempo até
que se consiga realizar essa tarefa, então, a adição de alguns fósforos
anti-tormenta é quase que vital a um sobrevivente, principalmente para quem só
tem a faca às mãos, esta deve dispor de meios confiáveis e rápidos para a
obtenção de fogo, tão necessário para a segurança e conforto do sobrevivente.
Então, após algumas justificativas
necessárias, vamos começar a falar das modificações que eu realizei na minha
faca Jungle King I, mas reparem que em nenhum momento eu mexi na estrutura
principal da faca, ou seja, eu não fiz nenhuma intervenção mecânica nem na
faca, nem na skinner e nem na bainha da mesma pois se algum dia eu resolver
retorná-la ao seu modo original, isso será perfeitamente possível.
Pra se ter ideia do que foi inserido ou
retirado, posto uma foto do kit original da faca como vem de fábrica.
Foto
do kit de sobrevivênciandanfaca Jungle King I (embora esta foto seja da Desert
King, o kit é o mesmo).

As duas fotos acima são do folheto explicativo que mostra as possibilidades das utilidades.

As duas fotos acima são do folheto explicativo que mostra as possibilidades das utilidades.
Eu não vou ficar repetindo o conteúdo do
kit pois isso já foi esmiuçado o bastante na matéria que escrevi sobre esta
faca neste mesmo blog, então, a partir de agora vou mostrar o que foi mudado na
minha faca de uso pessoal.
Esta
é a aparência final da faca com os acessórios já inseridos e, como se pode
notar, quase nada muda na aparência da mesma à exceção do bolso na frente da
bainha.
Este é o conteúdo do bolso. Além do canivete com funções variadas e dos talheres, eu inseri mais uma pederneira pra poupar a pederneira original pois esta é de difícil aquisição pra quem mora no Brasil.
Nesta foto, uma visão da gaveta da
bainha onde já começamos a ver algumas das modificações inseridas nela, tal
como o cabo de aço encapado com resistência para 20lbs enrolado no local onde
era o prolongamento da borracha de atiradeira e, logo acima deste, um rolo com
20m de cordão de seda encerado para fins diversos, incluindo amarrar a borracha
a uma forquilha de madeira na confecção de uma atiradeira, já que atirar com a
forquilha da bainha é algo bastante ruim e impreciso. A confecção de um arco
para flechas também é algo muito provável com esse cordão.
Nessas duas fotos é possível ver o termômetro e um pequeno farolete inserido ao final da bainha junto à malha da atiradeira. O primeiro para a medição da temperatura corporal em caso de hipotermia ou febre, já o segundo é pra iluminação de algum ambiente escuro ou para ser amarrado junto a um arpão ou fisga para a pesca noturna.
Nesta foto, uma outra adaptação. Eu retirei de uma pequena régua que é vendida junto com o termômetro e uma bússola do tipo botão, esse anel graduado que serve para se fazer a devida correção da bússola pois a declinação na minha região é de cerca de 15º, portanto, é possível declinar o azimute e obter um rumo mais preciso.
Aqui temos todas as opções do
interior do tubo de sobrevivência, vamos a elas:
Acima, dois band ayds da marca Kura
kort, muito bons e tem uma cola que é bastante resistente mesmo que o local do
corte esteja sujo ou suado. Adicionalmente esses band ayds tem a função de pontos
secos em caso de algum corte maior;
Logo a baixo temos 4 fósforos
anti-tormentas, dois chineses e dois da marca MK, Norte Americanos e uma
pequena lixa para riscá-los;
Logo à esquerda, eu coloquei 40
anzois de tamanhos diferentes, são 35 lacrados entre duas tiras de esparadrapo
do tipo micropoore, que é fino o bastante para não criar volume e 5 do tipo
haste longa soltos pela cápsula;
Na sequência, um rolo com cerca de
15m de linha 0,20mm de excelente qualidade. Esse é um material extremamente
barato pra se ficar colocando coisas de qualidade duvidosa;
A pinça original do kit;
Duas agulhas com linha já colocadas
e enroladas em sua própria haste para economizar espaço;
Duas linhadas já prontas, com
anzóis do tipo mosquitinho, 5m de linha 0,20 e chumbadas pequenas. Essas
linhadas ficam por cima de tudo o mais no tubo de sobrevivência pois é a minha
primeira linha de obtenção de alimento;
Extrema esquerda, em baixo dos anzóis,
dois alfinetes de fralda e um snap para isca. Os alfinetes tem utilidade para
se efetuar algum remendo de emergência em algum botão de calça, blusa ou para
fazer a linha correr por dentro do seu olhal no caso de feitio de alguma
armadilha. O snap tem utilização mais restrita servindo somente para a
armadilha;
Na sequência, 10 chumbadas de
formato e peso diferentes. Objetivo óbvio.
Obs. Notem que a parte isolada do
tubo de sobrevivência ainda não foi aberta.
Aqui em detalhe as linhadas prontas
e amarradas com uma pequena tira de micropoore.
Abrindo-se a extremidade inferior do tubo, no espaço destinado à guarda de comprimidos para potabilizar a água, temos dois deles juntamente com três pequenos discos de algodão compactado, além de uma pequena lupa para observação de alguma farpa ou outra coisa que o valha e, também, para acendimento de fogo. Ainda, coube um pequeno rolo de cabo de aço encapado com resistência de 20 libras, mas esse pequeno rolo está com os dias contados pois eu vou substituí-los por um rolo de fio de arame de aço destes que são usados para cerca elétrica doméstica que tem resistência maior e são bem mais finos, cabendo muito mais.
Aqui o detalhe dos chumaços de algodão para fim de obtenção de fogo, a lupa sobre eles, o fio de aço encapado e por fim os dois comprimidos de clorin.
Nesta foto vemos como fica bem compacto os chumaços de algodão, o fio de aço e a lupa que foi desbastada por mim para caber dentro da tampa da cápsula.
Tubo fechado e pronto para ser guardado dentro do cabo.
Aqui vale uma menção. Quando vou para
passeios de um dia ou menos, às vezes de uma tarde no mato eu retiro o bolso
frontal pois como não vou utilizá-lo para refeições, eu simplesmente solto as fitas
de velcro que eu fiz exatamente para essa finalidade, e que consiste em uma
fita fina, com cerca de 2 cm de largura e que é passada na parte de cima do
bolso e por dentro da braçadeira que é usada para prender a bainha à cinta e
permite que esse bolso não desçam, pois o formato da bainha é afunilado para
baixo. A segunda fita é mais larga, com cerca de 2 ½” e serve para fazer com
que o bolso fique bem justo à bainha.
Bom, estas são as minhas considerações a
respeito da customização destas facas e, caso alguém discorde ou queira
acrescentar alguma coisa ao que foi dito, estarei aberto à sugestões.
Sandro M. Domanski