sábado, 3 de novembro de 2018

Rifle CBC Impala - Um marco na indústria de armas civis no Brasil


Essa verdadeira joia entre as armas calibre .22 de fabricação nacional pode ser considerada também como uma relíquia para os seus felizes possuidores.
Fabricada em duas versões bastante similares, diferiam entre si apenas pela grossura do cano e sistema de carregamento, esse rifle é até os dias de hoje considerado o único do gênero fabricado no Brasil, pois foi concebido especialmente para tiros de precisão em competições com esse diminuto, mas muito preciso calibre.
História.
Em 1983, a aeronáutica do Brasil encomendou à CBC a confecção de alguns rifles em calibre .22 com ação por ferrolho para o treinamento de cadetes mas, com uma característica diferenciada em relação às armas normais, deveriam ter o trilho para a instalação de lunetas na lateral da culatra e não sobre estas como é usual. Baseado nessa solicitação, a CBC decidiu que era hora de lançar no mercado uma arma que tivesse algumas características que dessem à arma uma maior precisão surgindo assim o conceito do rifle Impala., com uma coronha mais alta, que permitisse a adição de alguns contrapesos e outros acessórios para equilibrar a arma mais de acordo com atiradores de precisão, soleira regulável, gatilho com regulagem de tensão, pressão e posição, trilho para a adição de bandoleira e champignon, entre outras coisas, mas o que mais difere o modelo Impala das demais armas nesse tipo de ação fabricadas para uso standart é o cano que, além de mais longo, grosso e pesado, é confeccionado dentro de normas rigorosíssimas para a obtenção de precisão.
São muitas as características diferenciais do rifle Impala em relação às armas produzidas até então no Brasil, tanto pela própria CBC quanto pelas concorrentes, por esse motivo, pode-se dizer que a Impala nunca teve concorrentes que pudessem se igualar a ela na categoria arma de competição com fabricação nacional, porém, ela não é, nem de longe páreo para armas importadas que competem nas mesmas categorias, o que não impede que um bom atirador não possa conquistar algumas medalhas em provas onde essas concorrentes de fora estejam participando pois, como dizia um amigo meu, no tiro, metade do resultado é por causa da arma e metade por causa do atirador pois um atirador medíocre nunca ganhará uma prova mesmo com a melhor arma do mundo, mas um exímio atirador pode ganhar provas mesmo que a arma não seja a melhor do mundo.

A Impala em partes.
Culatra.
Considerada a alma de uma arma, a culatra da Impala é construída em cima da culatra do modelo 122, velha conhecida dos brasileiros desde a década de 60, quando o controle acionário da CBC ainda pertencia à americana Remington, controle este assumido desde o ano de 1936, e esta empresa passou a fabricar aqui alguns dos modelos que vendia na terra do tio Sam, como a própria 122, que na época possuía um carregador tubular sob o cano (meu pai possuía uma que foi roubada infelizmente pois era promessa dele me presenteá-la quando fizesse 18 anos), e a Nylon 66 (a primeira arma no mundo a ter partes em polímero no próprio mecanismo da arma), ambas fabricadas sob licença da Remington por muitos anos até a sua descontinuação nos anos 2000.
Na parte superior da culatra encontramos dois frisos longitudinais em forma de rabo de andorinha que servem para a instalação de mounts de lunetas padrão 11 mm e a fábrica fornece junto com a arma, dois espaçadores que podem ser montados nesses trilhos para se elevar a altura da luneta em caso de o atirador não querer retirar as miras originais da arma. Esses espaçadores na verdade serviam para a instalação do dióptro que era fabricado pela CBC para equipar esta arma (mais sobre isso mais à frente), podendo opcionalmente ser utilizados na luneta.
A culatra da impala montada na coronha.
Pode notar-se, da esquerda para a direita, a trava de disparo em sua posição de destravada, a manopla de acionamento do ferrolho e a janela de ejeção do cartucho fechada pelo ferrolho
Aqui a culatra separada da coronha para se ter uma melhor ideia das suas dimensões.
Na parte inferior, podemos ver, da esquerda para a direita, o retém do ferrolho, a esfera que aparece é a esfera do ferrolho que, na verdade fica na lateral da culatra, o pino protuberante é o receptáculo do parafuso de regulagem de tensão da mola do gatilho e, logo na sequencia, o gatilho onde se pode notar o "trilho" de posicionamento do mesmo mais adiante ou mais atras para quem tem mãos menores.



Carregadores.
O sistema de carregamento da Impala é através de pente e, de conformidade com cada modelo, o pente pode ser fixo ou destacável. Nos modelos Match Máster 322, o carregador tem a capacidade para 5 cartuchos e é fixo na culatra sendo que o carregamento é efetuado por cima da arma, abrindo-se o ferrolho e colocando os projéteis um a um, já no modelo Máster 422, o carregador tem capacidade para 10 projéteis e é destacável através do acionamento de uma manopla que fica por dentro da coronha e salienta-se na parte traseira do carregador. O carregamento desse carregador se faz projétil a projétil por cima do carregador com este fora da arma.
  
Na primeira foto podemos ver o carregador, já municiado e, na sequência, o carregador na posição em que é inserido no receptáculo da arma. Notem o acabamento na borda da coronha onde este carregador é inserido na arma onde se nota um chanfro para auxiliar a "encontrar" o caminho certo do mesmo e, para evitar arranhões na coronha.

No caso do modelo Match Máster 322, o carregamento é um pouco mais complicado se a arma tiver a instalação de luneta.

Ferrolho.
O ferrolho da Impala seria o mesmo da 122, não fosse uma frezadura lateral que atua junto com uma trava de ¼ de volta que impede que o ferrolho saia da culatra a cada vez que se manobre o ferrolho para engatilhamento, haja vista que a única coisa que impede que o ferrolho saia fora da culatra no modelo 122 é o gatilho e se este for premido, permite que se retire o ferrolho para a limpeza, porém, na Impala, quando o gatilho está regulado de forma muito suave, pode causar a desmontagem involuntária do ferrolho no momento do engatilhamento, então a empresa adotou essa trava lateral que permite a livre movimentação do ferrolho para municiamento, mas quando se quer sacá-lo, é só girar ¼ de volta para que este libere o ferrolho.
Ferrolho, vista superior.
A faixa preta na extremidade do ferrolho é a mola do extrator que, nada mais é do que uma fita de aço temperado em forma de "C! que abraça o ferrolho e empurra os extraatores sempre para dentro deste.

Ferrolho, vista inferior.
Nesta posição, podemos ver um furo bem à esquerda onde se nota uma espécie de olhal em seu interior que é o arame de retenção da parte traseira do ferrolho e que dá a compressão da mola do percutor. Na sequência, logo à direita, vemos o pino que traciona o percutor quando o ferrolho é armado. O bloco saliente é a trava do ferrolho que, quando na posição de disparo e com a alavanca abaixada, vai engastar-se em um correspondente entalhe na culatra de forma a não permitir o recuo do ferrolho depois do disparo. Dentro da canaleta, o que vemos é o corpo do percutor, em sua posição armada. A parte em aço inoxidável é o encosto da munição, é a peça que empurra a munição para dentro do cano e que comporta o sistema de ejeção depois desta deflagrada e quando se dá a manobra do ferrolho para a recarga.

Ferrolho, vista frontal.
Bem à frente do ferrolho vemos o furo por onde o percutor processa o disparo e as duas garras do extrator.

Botão de desmontagem do ferrolho.

A desmontagem do ferrolho para limpeza de rotina é muito simples, como já foi dito, mas a desmontagem minuciosa das peças para a manutenção mais fina é algo meio estranho, haja vista que o sistema de fixação das partes desse elemento é feita usando-se um arame de aço que tem um olhal em uma extremidade e é enfiado em uma reentrância que se acasala entre a parte traseira e a frontal do ferrolho e, retirando-se esse arame, ambas as extremidades saltam para direções opostas em virtude da ação da mola do percutor. Essa desmontagem, se feita descuidadamente, pode causar a perda de peças e partes do mecanismo que possui arruelas de espaçamento e ajuste com menos de ½ mm de grossura, além de danos estéticos à parte traseira, pois esta precisa ser presa em um instrumento de aperto (morsa ou alicate de pressão) e, para isso deve ser forrada de forma adequada com uma tira de couro ou várias camadas de tecido grosso, mas, enfim, isso não exige um gabarito apropriado e qualquer pessoa medianamente erudita em sistemas mecânicos pode executá-la sem muita dificuldade.
Para a conservação e bom funcionamento dessas partes, utilize graxas sintéticas finas ou graxas à base de molibdênio.
O acionamento do percutor se faz através de um pino que se acasala com uma reentrância no anel base da manopla que tem um ângulo tal que, quando manobramos essa manopla, o pino corre pela reentrância e é empurrado para trás levando consigo o percutor que encaixa-se em uma parte plana no anel base da manopla até o ferrolho ser fechado, momento em que o anel base liberta esse pino de forma que o disparo só não aconteça por causa do escoramento do percutor pelo sistema de gatilho. Na traseira do ferrolho existe um pino que, nada mais é do que um prolongamento do percutor, que tem um fino anel plástico na cor vermelha que indica que a arma está engatilhada.
Traseira do ferrolho, onde se pode notar o pino indicador de arma engatilhada.


Gatilho.
Outra diferença marcante do projeto Impala para as outras armas de mesmo sistema de operação e calibre é o gatilho. Como a arma foi concebida para tiros em stand, ou seja, em situação controlada onde o risco de um disparo acidental é diminuído devido ao fato de que no momento do municiamento todas as armas devem estar posicionadas diretamente em relação ao alvo e não como em uma situação de caça onde ocorre do atirador manobrar o ferrolho da arma e andar com ela livremente, até mesmo em algumas situações onde há a iminência de confrontação com a caça este poderá deixar a arma destravada e isso, sem sombra de dúvida, é um fator de risco se o acionamento do gatilho for muito leve. Por isso, o gatilho de armas de competição podem ter sistemas de regulagem de tensão de disparo que tornam essa tarefa muito mais leves do que para armas de caça, permitindo assim que o atirador execute o tiro com um esforço tão leve que não ocorra a movimentação da arma antes do disparo. No caso da Impala, a regulagem de tensão de disparo pode chegar a aproximadamente 200g., mas ai, em determinadas circunstâncias de temperatura podem ocorrer disparos acidentais devido ao efeito de dilatação dos metais dos componentes e, até mesmo, da diminuição da resistência de tensão da mola que mantém o mecanismo preso. Quanto a essa mola, existe também um parafuso que regula a tensão desse elemento para que se possa equilibrar o sistema tanto para dias frios no inverno sulino quanto para dias quentes do verão do norte.
Nesta foto podemos ver o parafuso de tensão da mola do gatilho.

Através destes orifícios no guarda-mato se consegue ter acesso aos parafusos de tensão da mola e de tensão de disparo, o primeiro garante um peso constante da pressão por todo o curso e o segundo, é o que regula quanto de esforço se fará para o disparo propriamente dito. O ideal é a mola com uma tensão mais fraca do que a tensão de disparo para se ter o sentido do ponto exato do desengate do disparador no momento do disparo.

É uma pratica muito bem aceita que o atirador, com a arma desmuniciada, proceda a regulagem da tensão do disparo sempre que chegar ao stand para a sua seção de pratica pois a variação climática pode, realmente causar disparos acidentais e isso já aconteceu comigo por mais de uma vez e, graças a um atenção muito grande e algumas outras praticas que possuo antes de efetuar o municiamento da arma, nunca com consequências, mas sempre com algum susto e espanto de pessoas menos acostumadas com tais características.
A CBC garante um funcionamento perfeito do gatilho com a regulagem de disparo em um peso próximo de 600 g.
Os dois parafusos de regulagem do gatilho, tanto o de tensão de disparo quanto o de tensão da mola podem ser vistos por baixo do guarda mato e à frente do gatilho propriamente dito e a empresa dá uma sugestão de regulagem, para quem quer um gatilho hiper sensível, de desmuniciar a arma, armar o ferrolho e, com o cano voltado para um anteparo que não cause ricochetes, apertar o parafuso de tensão de disparo até que ocorra o disparo do percutor e, depois, retrocedê-lo cerca de ¼ a ½ volta para que se consiga ter uma referência prática da sua posição em relação a disparos acidentais. Quando for executar essa tarefa, é sempre bom colocar uma cápsula já deflagrada na câmara para que a extremidade do percutor não golpeie a lateral do cano, podendo causar o desgaste prematuro ou mesmo a quebra do percutor.
Além dessas duas regulagens, o gatilho da Impala permite, ainda, a regulagem de distância ou posição e de ângulo. Para qualquer uma destas regulagens, basta soltar o parafuso existente na lateral do gatilho propriamente dito e posicioná-lo no local adequado apertando-o novamente depois.
 Gatilho da Impala visto pelos dois lados. Neste último, vemos o parafuso de regulagem de posição e ângulo.

Nota. Essa peça da arma é feita de alumínio e tem parcos 3 ou 4 filetes de rosca para aperto do parafuso, portanto, só dê a ele o aperto necessário para que não fuja da posição desejada, não fique forçando em demasia o parafuso para que não espane a rosca e se tenha que mandar fabricar outro gatilho pois não sei se a CBC ainda terá dessas peças para a reposição, afinal, é uma arma descontinuada a muitos anos.

O Cano.
Concebido desde o projeto inicial para tiros de alta performance, o rifle Impala tem, dentre as características que o diferem de um rifle comum, uma característica que mais influencia nesse fator, que é, sem dúvida, o cano da arma. Com uma câmara do tipo Match, que difere das câmaras para armas standard pelo fato desta últimas serem mais longas do que as do tipo match. Nas câmaras standard, o projétil entra livremente na câmara e existe um pequeno espaço entre o final do projétil e o início do raiamento do cano, que é alguns centésimos de milímetro mais fino do que a câmara. Nas câmaras tipo match, o projétil fica literalmente encravado nas raias, na prática, isso impede o bullet jump (o salto do projétil antes da entrada no raiamento), o que pode provocar pequenos defeitos de entrada, podendo diminuir a precisão da arma. Ai surge uma pergunta  _ Mas porque então todas as câmaras de armas de fogo não são do tipo match, pois ai se aumentaria a precisão de todas elas? _ A resposta é simples, quando o projétil entra nesse raiamento, em câmaras do tipo match, e ocorre a falha da deflagração do cartucho, o sistema de extração tem dificuldade para retirar o projétil da câmara e pode ocorrer dele ficar engastado nessa câmara, nada que não possa ser retirado com uma chave de fendas fina, mas essa atitude, se freqüente, pode vir a arranhar a câmara e danificá-la futuramente, sem contar que, se o indivíduo estiver caçando, até que ele consiga executar essa tarefa, o animal já foi embora a muito tempo ou, se for uma caçada de algum animal bravio, como é o caso de javalis (único animal permitido de ser abatido em território nacional), isso pode significar a morte do caçador, e, para o caso de armas semi-automáticas, uma falha como esta pode significar o emperramento momentâneo do mecanismo como um todo.


A foto de cima mostra um modelo de câmara tipo Match, a de baixo é uma câmara standart. As medidas dos projetos estão em milésimos de polegada, para saber as medidas em mm, multiplique por 25,4. Então, teremos um comprimento de 16,33 mm para a câmara tipo Match e 20,77 mm para a câmara tipo Standart.

O cano das Impalas em modelo Match Máster 322 é mais grosso e pesado do que a sua congênere Máster 422, pois sendo uma arma de mesma construção que outra, quanto mais grosso é o seu cano, maior precisão ela terá. Isto se deve ao fato de que quanto mais grosso, menor será o efeito causado pelo calor gerado na explosão do projétil, ou mesmo o calor de determinados ambientes de competição, o que causa a dilatação do cano e conseqüente perda de precisão, então, quanto mais grosso, menos será sentido esse efeito. A outra coisa em que a grossura do cano interfere é no efeito da vibração do cano, pois quanto mais grosso, maior será a freqüência de vibração deste após o disparo e maior precisão se consegue. Vale lembrar que, uma maior frequência não quer dizer que o cano vibre mais, mas que as ondas de vibração são mais curtas e mais fáceis de dissipar, ao contrário das ondas mais longas que são muito mais danosas a qualquer equipamento. Para exemplificar, basta ver as ondas da água em um lago, quanto maior for a frequência das ondas ao atingirem a margem, menor e menos danosa elas são, já ondas de maior amplitude, costuma ter frequências menores e ser mais devastadoras, então, entenda como frequência, o nº de vezes que estas ondas atingem a margem em um determinado tempo que, em se tratando de vibração é exatamente dessa forma que é considerada. 
No caso do modelo Máster 422, o cano inicia-se da mesma grossura que no modelo Match Máster 322, mas sofre um afilamento que vai deste próximo à câmara até bem próximo da ponta quando, novamente, torna a engrossar, permanecendo assim até o seu final.
Ambos os canos possuem coroa inglesa que é uma forma de arremate da ponta do cano onde é feita uma entrada mais grossa que o diâmetro interno do cano e arrematado de forma plana para garantir que o final do raiamento não sofra nenhum tipo de interferência, o que fatalmente acabaria por prejudicar a precisão.
Notar a coroa do cano, que garante uma boa proteção à extremidade do cano contra choques que possam vir a danificar o raiamento.

Todos os canos dos rifles Impala são testados individualmente e recebem uma marca de aprovação gravada na lateral do cano e somente depois disso seguem para a linha de montagem.

A coronha.
Notadamente, a coronha é a parte da Impala que mais chama a atenção pois difere em muito das armas feitas para a caça normalmente. A madeira utilizada para a coronha é de lei e, pelo menos na que eu possuo, foi identificada como “açoita cavalo”, que é uma madeira leve e muito resistente a choques e variações climáticas e, desde que corretamente secadas, dificilmente empena sob variações de temperatura e umidade. Tal madeira é secada em estufas com temperatura e umidade controladas para dar o máximo desempenho a essa importante parte da arma.


O rifle mostrado nos dois lados onde se vê a harmonia do design da coronha que inspira a precisão mesmo antes de empunhar a arma.

As partes da coronha que mais chamam a atenção são a parte frontal ou fuste, porque este é mais grosso e largo do que nas armas tradicionais, pois assim é possível conseguir um melhor apoio para a mão dianteira na arma. O fuste começa, junto ao guarda-mato com a mesma altura que o próprio guarda-mato, mas vai afinando e também tornando-se mais estreito à medida que vai chegando à sua ponta. Na parte inferior do fuste, junto à cavidade de inserção do carregador (no caso do modelo Máster 422), existe um trilho de alumínio que possui medidas padronizadas internacionalmente em cujo qual se pode instalar uma série de acessórios como contrapeso, apoio móvel de mão (champignom), suporte para bandoleira, aliás, esse acessório já vem com o rifle em sua embalagem original de fábrica. Ainda tratando da parte frontal do rifle, em sua parte interna, por baixo do cano, existem duas cavidades feitas com fresa que servem para a adição de contrapesos frontais na coronha e balanceamento segundo a preferência do proprietário.
Este é o trilho de alumínio que se encontra sob o fuste da coronha.

O suporte de bandoleira que é fornecido com o conjunto. Na minha opinião é muito longo e faz com que, na posição firme de disparo, este alavanque muito o trilho causando até mesmo a soltura dos parafusos de fixção na coronha pois, lembremos que esta é de madeira e os parafusos são finos e curtos devido às cavidades interiores da coronha para a adição de contrapesos.

Nesta foto podemos ver nitidamente as cavidades para a inserção de contrapesos frontais no fuste da coronha à baixo do cano.

A parte frontal da coronha, junto ao cano existe um berço feito na madeira para a acomodação do cano, ocorre que, esse berço não toca no cano, mas existe uma pequena folga onde se pode, inclusive, passar uma folha de papel entre as partes pois assim permite a livre vibração do cano depois do disparo e, se a madeira sofrer algum tipo de alteração devido à umidade ou variações de clima, esta não trará interferência no resultado do disparo.
O punho ou “pistol grip“ ou simplesmente “grip” como é chamada a parte da coronha onde o atirador empunha a arma com a mão do gatilho, tem ângulo bastante acentuado e projeta-se para baixo em um ângulo próximo dos 90º sendo que a fábrica executou neste um trabalho de picotado na madeira que o deixa anti-derrapante para garantir uma maior firmeza à mão do gatilho. Existe uma cupilha de madeira dentro desse pistol grip para evitar a queba por impactos e que realmente aumente em muito a resistência dessa parte da coronha.
Pode se ver a cupilha de reforço do grip logo após a cavidade de encaixe da culatra, como uma mancha mais escura na coloração da madeira.


A parte de traz da coronha é, também mais larga do que as tradicionais armas de caça e possui uma almofada de tiro no seu lado esquerdo, o que torna essa arma uma arma para destros apenas pois, se formos atirar com ela e sendo canhoto, existe uma quina que machuca um pouco o rosto do atirador e o grip fica também muito alto, dificultando para quem quiser empunhá-la com a mão esquerda.

Note-se que a coronha tem um canto mais vivo do seu lado direito, no oposto à almofada, tambem tem um encaixe para mão algo menos confortável para canhotos. Eu não sei se a CBC produzia coronhas para canhotos ou se estes tinham que adaptar-se a esse estilo de tiro.

Ao final da coronha, existe uma soleira que tem uma base de plástico de alto impacto que é parafusada à parte de madeira da coronha que recebe um embuchamento para não ocorrer rachaduras indesejáveis. Esta base possui um rasgo oblongo central que serve de guia para um parafuso Philips de cabeça redonda que prenderá a soleira propriamente dita, que é feita de alumínio revestido de borracha que tem uma furação central e um trilho em sua base que é acoplado à base fixa na coronha de tal forma que, se você soltar esse parafuso, a soleira desliza em sua base em um trajeto longitudinal para cima e para baixo e, se soltar ainda mais o parafuso, permite à soleira ser presa em ângulos em relação ao eixo vertical da arma ficando esta na diagonal para qualquer sentido em qualquer ângulo, mas não é recomendado que seja usado mais do que 30º para um lado ou para outro por causa do risco de torção da base metálica dessa soleira.
Por dentro da parte traseira da coronha existe, também, uma cava para a inserção de contrapesos na parte traseira para balancear a arma de acordo com a preferência do usuário.


Vista frontal da soleira de borracha da Impala. Realmente muito confortável.

O curso superior da soleira.

Curso inferior da soleira.

Angulação da soleira.

Miras.
Os rifles Impala eram fornecidos anteriormente com sistemas de mira muito rudimentares, pois as miras traseiras destas armas eram as mesmas que eram fornecidas com as carabinas de pressão 345 Expresso da mesma CBC e, apesar de ter um sistema de alinhamento por parafusos de elevação e azimute, mas não possuíam um sistema de cliks para se regular a arma em posição de disparo. Posteriormente, acredito que, de tanto ouvir reclamações dos atiradores proprietários desses rifles, a CBC desenvolveu outro sistema de pontaria traseira com regulagens clicadas, mas que não era indexado (o nº de cliks com a distância de movimentação de ponto de impacto no alvo), como é feito nas lunetas de precisão. Essa mira traseira possuía regulagens de elevação e azimute, mas no azimute o ponto zero de impacto nunca coincidia com a marcação central da mira pois esta era feita com peças fundidas e que possuíam uma relevante distorção, mesmo assim, se desconsiderados esses inconvenientes, era capaz de arrazoar excelentes agrupamentos (para uma mira aberta) a distâncias de até 50 metros. Esta mira era presa ao cano da arma através de dois pequenos parafusos verticais.
A mira dianteira ou massa de mira como preferem, é composta por um túnel que é preso ao cano por aparafusamento de um par de mordentes em frisos em forma de rabo de andorinha correspondentes na ponta do cano. O túnel de mira possui um tampão roscado que aperta um insert que é inserido dentro desse túnel através de um rasgo superior e possui duas reentrâncias, uma de cada lado do rasgo onde se fixam duas abas existentes no insert para que este não mude de posição ou gire dentro do túnel.

Mira traseira e dianteira da Impala desmontadas.

Os rifles modelo Impala foram desenvolvidos especificamente para provas de competição e se enquadram nas provas de carabina standard de pequeno calibre com mira aberta a 25 m., por isso, é fornecido, também com o conjunto, uma massa de mira aberta para ser instalada na extremidade do cano em substituição ao túnel descrito anteriormente, porém, para quem queria utilizar a Impala para competições em maiores distâncias, isso também é possível utilizando se um conjunto de dioptro e pínulas de acrílico em substituição às alças e massas de mira respectivamente, porém, estes eram fornecidos separadamente como acessórios apenas. Para ser usado, tanto o dioptro quanto o túnel com pínulas necessitavam de espaçadores, haja vista que a altura do dioptro causava o bloqueio do ferrolho se instalado sem esses espaçadores e estes tornava o aparelho de pontaria muito alto, de tal forma que o rosto do atirador ficava mal apoiado na coronha, este empecilho poderia ser evitado com a instalação de almofada móvel na coronha que possuiriam reguladores de altura elevando o rosto do atirador para uma posição onde este ficasse mais firme e auxiliasse na firmeza da posição. Alguns atiradores customizam as coronhas de suas armas para possibilitar essa regulagem.

Nesta foto vemos os espaçadores e a mira dianteira aberta da impala.

O doptro, para quem não sabe, é um sistema de pontaria que consiste em um orifício de diâmetro calculado que serve como massa de mira e que facilita o enquadramento da massa que, por sua vez é uma peça de acrílico com um furo central que é enquadrado com o alvo de forma que o atirador, ao olhar por dentro do dioptro, situe o orifício da pínula em seu centro e, posteriormente, o alvo no centro da pínula de forma que pareça uma série de círculos situados um dentro do outro e isso, ao contrário do que possa parecer, é muito mais fácil de ser engajado do que as miras abertas convencionais em caso de competição pois em caso de caça, esse tipo de aparelho de pontaria acoberta demais os arredores do alvo.
O dioptro fornecido pela CBC não era de má qualidade, mas deixava muito a desejar em relação às opções de customização ou de adequação ao atirador pois só era fornecido com um único diâmetro de furo e, nem mesmo no manual da arma é informado sobre qual é esse diâmetro. Em armas de competição para provas internacionais, existe a possibilidade de troca dessa peça com a opção de diversos diâmetros, haja vista que atiradores de idades mais avançadas perdem a capacidade do olho de engajar alvos sob condições de luminosidade menos do que as ideais e, portanto, há a necessidade de substituição de orifícios para maiores diâmetros para maior captação de luminosidade pelo olho. O sistema de regulagem era bastante simplista não permitindo as regulagens mais finas que uma arma de precisão para provas internacionais exige de fato.
Quanto às pínulas, a CBC fornecia 4 tamanhos de pínulas em uma só cor, ou seja, nenhuma pois só existia a opção transparente. Em armas de categoria mais elevada são oferecidas pínulas em cores diferenciadas para serem usadas nas diversas condições de luminosidade que o dia da prova ou o ambiente oferecer pois em disa nublados é necessário utilizar uma pínula da cor sépia, que aumenta o contraste do alvo, em dias de muita luminosidade, usa-se cores suavemente fumê para reduzir o ofuscamento e em ambientes internos pode-se utilizar a cor ambar para evitar a refração das luzes artificiais e assim por diante.


Embalagem.
Todos os rifles Impala saem da loja embaladas em uma caixa de isopor injetado com as reentrâncias apropriadas para a acomodação precisa do rifle e alguns acessórios que são enviados de fábrica junto com o rifle, que são:
1-      Suporte para bandoleira;
2-      Chave de fendas 1/8"x3";
3-      Chave de fendas 3/16"x3";
4-   Espaçador traseiro;
5-   Espaçador dianteiro;
6-      Uma flanela personalizada;
7-      Uma etiqueta auto adesiva com a logomarca da CBC;
8-      Uma  capa  de  nilon envolvente com fechamento por zíperes;
9-    Caixa de isopor;
10-  Selo adesivo CBC;
11-  Selo linha Impala;
12-  Um manual em forma de livreto ilustrado detalhando os pontos diferenciais do rifle, o sistema de municiamento, manutenção primária e secundária, relação de peças e vista explodida do conjunto.



Acima uma impala em sua embalagem original e equipada com dióptro e bandoleira que são acessórios comprados separadamente.
Esta foto foi retirada de um sistema de venda de armas pela internet nos estados unidos chamado Gunlistings.org. e o proprietário possuia o conjunto completo.


Logo abaixo está o escaneamento de todas as páginas do manual do rifle Impala para quem deseja obter maiores informações sobre sistema de ferrolho, funcionamento do gatilho, detalhes de operação, manutenção e regulagens.

















































Sandro M. Domanski.






sábado, 28 de abril de 2018

AITOR BUCANERO - Sobrevivência nas veias

AITOR BUCANERO
Sobrevivência nas veias.


Prefácio.
Embora eu não saiba o momento exato da criação desta faca, eu creio que ela se situe após o início da da segunda metade dadécada de 80, porém o seu projeto começou a ser elaborado bem antes disso.


O perfil da lâmina da Bucaneiro, que os espanhóis chamam de “afalcatado”, onde a base da lâmina é mais estreita do que a sua porção frontal e deriva da falcata, uma espada que tem essas características, o nome falcata quer dizer "que tem o formato de foice" e foi utilizado em facas do período da segunda guerra mundial através da faca criada para o pelotão de montanha da Espanha que foi desenhada e fabricada pela FNT (Fabrica Nacional de armas de Toledo), desde meados de 1942/43 e tornou-se regulamentar para esta tropa em 1945.

Faca das tropas espanholas de montanha FNT

 A faca de montanha ou “Cuchillo de Monte FNT” foi tão emblemática para o exército espanhol que serviu de base para uma série de criações futuras, tais como as facas Vilegas e uma série de outras criações da própria AITOR como Cuchillo de Monte/Montanero, Oso Blanco/Negro, El Montero e também a faca objeto desta matéria a Bucanero.
A grande sacada que existe por trás deste formato de lâmina é que a sua porção frontal, sendo mais pesada, ganha mais poder de corte quando usada para cortar madeira a golpes (macheteio no bom espanhol ou no inglês shopping como alguns bushcrafters costumam denominar), mesmo esta não tendo um comprimento muito grande, e, também, no caso de uma luta corpo a corpo, esta ainda ganha mais poder de corte e causa maior hemorragia em caso de estocada e, dessa forma, ganhando eficiência pois uma faca mais leve consegue ter a mesma efetividade que outra de lâmina maior mas de desenho convencional. Adicionalmente, lâminas afalcatadas também ganham eficiência na hora do battoning, pois como se sabe, quando batemos na extremidade de uma lâmina para rachar lenha, esta costuma correr dentro da madeira ficando cada vês menos extremidade de lâmina para ser golpeada, o que faz com que se tenha que retirar a lâmina para reinseri-la na madeira ou golpear-se o cabo para que a lâmina penetre mais e sobre mais ponta para ser golpeada. Com facas de perfil afalcatado isso simplesmente não acontece pois, devido ao seu formato peculiar, essas lâminas penetram sempre mais na madeira quando são golpeadas.
Os leitores que estão atentos ao que estou escrevendo agora devem estar se perguntando:
_Mas esse formato, que faz a base da lâmina ser mais estreita do que a sua ponta, não faz, também com que esse perfil tenha a base mais frágil e fique mais fácil de se quebrar?
A resposta é SIM. Ela realmente é mais frágil em sua base que na extremidade, mas é só considerar que assim como uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco, uma faca é tão forte quanto seu ponto mais fraco, que é justamente a base mais estreita desta lâmina, mesmo assim, deve-se analisar que as medidas da lâmina da Bucanero não a deixam assim tão frágeis pois ela tem 5mm  de espessura por cerca de 40mm de largura, retirando-se os desbastes para o fio de corte e a serra, a secção possui uma área de aproximadamente 1,20cm², e, pelas normas do tipo de aço 440C (tomado como base pois não temos literatura suficiente para o aço MOVA70 usado pela AITOR), a tensão à ruptura é da ordem de 800/850Mpa ou kgf/cm² então, para uma secção dessas, a resistência fica entre 1.500 a 1.700kgf, mas é claro, que isso é tensão de cisalhamento onde as forças atuam quase que paralelas, o que quase nunca acontecerá com uma lâmina para esta finalidade, então podemos supor que guardadas as devidas proporções de pontos de esforço de ruptura e, quanto mais longa a distância entre as forças, menor será a resistência do material, se aplicarmos uma força a 10cm de distância da outra, iremos dividir esse valor por 10, o que ainda nos dá uma resistência de 150 a 170kgf para a ruptura dessa lâmina, empiricamente falando. 

Acima, exemplos de força de cisalhamento e força de ruptura.



Porém, tendo isso em consideração, é bom que os seus usuários saibam que o battoning é a forma mais agressiva de se tratar uma lâmina pois a força que atua sobre um objeto quando este é golpeado não é somente a da pressão do golpe, mas da força empregada (isto é, do peso do objeto que golpeia multiplicada pela velocidade que ele estiver no momento do impacto, multiplicado pela força do contentor desse objeto), multiplicada pela distância onde o golpe será dado até o ponto de resistência maior, dependerá, ainda, da resistência do material que será cortado e, ainda, da frequência da vibração a que essa lâmina irá sofrer e, portanto, em se tratando de uma lâmina que se destina à sobrevivência, é bom ser bastante moderado no uso dessa prática, seja com a Bucanero ou qualquer outra lâmina que seja, mesmo que esta seja full tang que alguns especialistas pregam ser indestrutíveis, principalmente se estas possuírem serra no dorso pois, se pensarmos direitinho, as serras são reentrâncias criadas no dorso das lâminas de onde se retirou metal e, por isso ali, por si só, já é um ponto de fragilização da lâmina.


Voltando ao desenvolvimento dessa faca, e novamente falando do seu perfil afalcatado, existiu um protótipo que a AITOR fez nos primórdios da criação das suas primeiras facas de sobrevivência Hollow handle que, embora tenha esse perfil de lâmina, tinha grandes diferenças com a Bucanero. Segundo fontes não oficiais, esse protótipo surgiu do desejo dos diretores da AITOR em participar da concorrência para a adoção do exército dos EUA na metade da década de 80, de seus novos equipamentos e, se observarmos pelo lado histórico, essa informação encontra embasamento quando estudamos a adoção da faca/baioneta M-9 desenhada pela empresa PROBIS e fabricada pela Buck que foi adotada em 1986. Lembremos também da forte campanha promocional efetuada pela fabrica, também espanhola, Marto, com seu modelo Explora survival para, conseguir um contrato com essa força para o fornecimento desta faca como equipamento de adoção oficial.

Para isso, a AITOR decidiu fabricar alguns protótipos de um modelo com o mesmo cabo da Jungle King I, apenas um pouco mais curto e, uma lâmina de perfil afalcatado que não recebeu sequer um nome mas somente os dizeres “Cuchillo de supervivência” e a gravação do brasão das forças armadas espanholas. Apesar do formato parecido, essa faca difere da faca objeto dessa postagem, por vários detalhes:

Fio: Talvez o mais importante detalhe em uma faca, o protótipo da AITOR tinha um grind extremamente alto indo até acima do meio da lâmina, permitindo assim que a faca pudesse ter uma afiação muito oblíqua, aumentando em muito o seu poder de corte. A meu ver, um ponto positivo e outro negativo pois, quem não quer uma faca extremamente afiada, contudo, isso torna o fio extremamente frágil devido exatamente à sua grossura e, ainda, devido à grande retirada de material da lâmina torna está bem mais frágil e, talvez seja este o grande defeito deste modelo pois será um equipamento entregue nas mãos de soldados que não são muito conhecidos por serem delicados com seus equipamentos.
Serra: Distinta das demais serras de facas de sobrevivência de cabo oco da AITOR mas, já usada em facas como El Montero e Oso Negro/Blanco em seus primeiros modelos, essa serra possui dentes arredondados e é afiada, não servindo para o corte de madeira, mas, segundo algumas imagens que pude ver, é muito eficiente para o corte de ossos de animais de grande porte, material congelado, metal de fuselagem de aeronaves e, pasmem, até mesmo de metal como pregos e arames grossos mas, talvez a maior qualidade desse tipo de serra seja o de não enroscar a faca em um caso de estocada causando, talvez, a perda da faca em um momento de luta.

Cabo: Era o mesmo usado nas facas Jungle King I, apenas um pouco mais curto, feito em aço inoxidável com a guarda integrada e tampa idêntica aos modelos da época.

Bainha: Era muito semelhante ao das faca cuchillo de monte e cuchillo de montanero da mesma AITOR e, além dos prendedores de perna e do sistema de presilhas para o punho da faca e para a retirada e colocação da faca no cinto, não tinha outros adereços.













As fotos acima são do protótipo que a AITOR criou para participar da concorrência para a adoção pelo exército norte americano na década de 80 e foram retiradas do Mercado Livre aproximadamente em 2013/14.

Como é possível notar pelas fotos, essa faca lembra muito uma Bucanero, pois foi o protótipo que serviu de ponto de partida para a AITOR desenhar e fabricar este modelo em algum período posterior.
Com o formato quase idêntico ao protótipo, a Bucanero possuía, apenas um perfil de lâmina mais fluido e um grind menos elevado, fazendo com que o projeto ficasse algo mais robusto, a meu ver, projeto este que ficou prejudicado por não ter uma bainha cheia de acessórios, como as facas da série Jungle King, pois, como já comentei em outra postagem, a Bucanero bem que poderia ter recebido uma bainha mais elaborada com os mesmos acessórios da JKI e até mesmo receber o nome de Jungle King II, ficando a JKII então com o título de JKIII e assim sucessivamente pois, pra quem gosta de facas de grandes dimensões, a JKI atende perfeitamente aos anseios do mais exigente dos sobrevivencialistas. Para quem gosta de facas pequenas, as JKII são o melhor de todos os mundos mas, e pra quem quer uma faca de médias dimensões com o maior número de utilidades possíveis, nesse caso, a Bucanero deixa a desejar pois a sua bainha não tem, sequer, uma pedra para a manutenção do fio e, como o kit de dentro do cabo é o mesmo da JKI, esta não possui nenhum sistema de ascendimento de fogo, haja vista que a JKI tem uma barra de magnésio/pederneira na bainha e não tem nenhuma barra de magnésio no cabo ficando a encargo do usuário incluir esse acessório em suas facas. Hoje esta tarefa não é algo difícil, mas nos primórdios dos anos 80 esse tipo de material era algo praticamente impossível de ser conseguido aqui no Brasil, embora nos Estados Unidos e Europa isso fosse algo bastante corriqueiro.
Uma das coisas que a maioria dos defensores de facas full tang critica em facas de cabo oco é que o formato tubular do cabo pode rodar quando se utiliza a mesma para golpear madeira e que esse formato não permite ao usuário saber de que lado o fio da faca estaria em caso de ter que pegá-la na escuridão da noite. A meu ver, são dois problemas facilmente resolvidos, o primeiro utilizando-se o cordão do fiel na furação da guarda e não na tampa, e o segundo, sempre colocar a faca do mesmo lado na bainha, aliás, vejo isso como um ato instintivo e, se não fosse dessa forma, não haveriam bainhas ambidestras, mas somente bainhas que permitem a guarda da faca sempre de um mesmo lado ficando assim, prejudicados os canhotos ao portarem a sua ferramenta do lado esquerdo e tendo seu saque sempre com o fio voltado para a frente. Um outro fato que descredibilita estes argumentos é o fato de que outras facas famosas e muito apreciadas por campistas, sobrevivencialistas e soldados tem seu cabo cilíndrico, tais como as Ka-Bar, Ontário USAF, IMBEL MK2, Sykes & Fairbairn (embora esta última tenha fio dos dois lados), etc. Particularmente, eu me adapto muito bem a facas de cabo redondo, especialmente porque facas de cabos anatômicos quase sempre não casam bem com a maioria dos usuários pois em se tratando de facas comerciais, estas são vendidas para pessoas de diversas estaturas e, portanto, não serão indicada a todos os tamanhos de mãos, guardadas as devidas exceções.


Modelos: Basicamente, foram criados apenas dois modelos de facas Bucanero, a de coloração natural em inox, apenas jateada, e a em inox banhado em cromo negro.




Foto retirada de um catálogo da própria AITOR nos anos 80


Como já é de costume nos textos que eu escrevo, após falar do aspecto histórico e detalhes do surgimento e de dados técnicos, eu costumo separar cada parte da faca e falar de cada um independentemente, então...

A lâmina: Porque eu sempre começo pela lâmina? Porque é a parte principal de cada faca e, notadamente, é o que define esta faca para a função específica a que esta atuará. Neste caso, uma lâmina de sobrevivência deve, obrigatoriamente, atender a três aspectos básicos, são eles:
a)- Robustez. A faca deve tolerar os rigores da função a que será destinada;
b)- Dureza adequada ao uso. De nada importa termos uma faca com 60 pontos na escala Rocwell se esta não tiver também tenacidade e quebrar-se ao menor golpe em um galho de árvore, da mesma forma, uma lâmina das mais flexíveis que não consegue manter a capacidade de corte e necessita de re-afiação a cada meia hora de uso;
c)- Funcionalidade condizente. Além do formato da lâmina, que a tornará apta ao uso que se fará dela, mas também o material de que são feitas deve atender aos rigores e necessidades do uso. Existem muitas lâminas de sobrevivência feitas em aços muito bons, mas aços ao carbono. E se o local onde for utilizar for em uma floresta da mata atlântica ou amazônica onde a umidade costuma destruir esse tipo de metal muito rapidamente, e o que dizer então de ambientes costeiros onde, além da umidade, existe a salinidade do ar. A primeira parte a sofrer com a corrosão é, exatamente o fio de corte onde o metal é mais fino e mais desprotegido pois o resto da lâmina pode ser pintado e existem tintas epox muito resistentes hoje em dia, então, é de suma importância que as lâminas destinadas a esta finalidade tenham boas características de inoxibilidade.




As linhas da silhueta da Bucanero foram desenhadas e confeccionadas com a finalidade de aumentar a eficiência da faca em cenários de sobrevivência. 

A lâmina da Bucanero é feita no tradicional aço inoxidável de alto teor de carbono e com a adição de Cromo, Molibdênio e Vanádio que aumenta a tenacidade, a dureza e a capacidade de retenção de fio que já atende aos quesitos A e C. A dureza não é das mais altas que já vimos, principalmente porque hoje existem aços mais avançados que podem ter durezas de 60 ou mais pontos da escala rockwel com alta tenacidade, mas os 56/58 pontos das lâminas já tem uma retenção de corte bastante alta e a facilidade de afiação também muito boa, sendo que as lâminas fabricadas após 2012, segundo especificação na própria caixa das Jungle King 1 passaram a ter dureza entre 54/58 pontos da escala Rockwel. Para exemplificar, lembro-me de um acampamento que fui em uma área aberta em um dia realmente frio no inverno (foi a noite mais fria daquele ano no Paraná) em que levamos somente redes de algodão para o pernoite e quando o frio realmente apertou, passei praticamente a noite toda cortando e rachando galhos de laranjeira (única madeira seca existente no local), para a fogueira com a minha Jungle King I e, creio que todos sabem a grande dureza dessa madeira, tanto para o corte quanto para rachar, no dia seguinte apenas algumas passadas na pedrinha de cerâmica do canivete Victorinox e pronto, estava rapando pelos do braço novamente.
Experiências pessoais à parte, como já foi dito, o formato afalcatado tem vantagens e desvantagens, mas um outro ponto que gosto nesse formato é que a ponta da faca fica com um perfil bastante curvado na região do fio e isso, para a retirada de peles de animais é realmente muito bom. A grande maioria das pessoas não sabe disso, mas depois de retirada uma pele animal ela deve ser salgada para não juntar moscas que põem larvas que vão furar e apodrecer as mesmas, e postas para secar para que se proceda o curtimento, depois de secadas, se raspa todo o excesso de carne e gordura que restou na esfola e, para isso, uma faca com perfil de ponta mais curvado evita que esta ponta venha a furar a pele, garantindo assim o melhor aproveitamento dessa pele.
O contrafio é parcialmente afiado, ou seja, um fio que não corta mas trás vantagens quanto à penetração para o caso de uma eventual defesa. Antes do início do contrafio, entre este e a serra existe uma pequena parte plana que auxilia no trabalho de battoning.
A serra é a mesma usada nas facas AITOR no período pré-crise ou anterior aos anos 2000, as famosas serras dente de lobo que tem um perfil triangular em duas carreiras de dentes e é sobremaneira eficiente para uma série de afazeres de sobrevivência mas eu tenho que fazer aqui um aparte, todas as serras usadas em facas são mal interpretadas, inclusive por mim inicialmente, pois a maioria das pessoas acha que com uma serra no dorso de sua faca, o usuário vai sair por ai cortando todo o tipo de madeira sem qualquer problema e com a mesma eficiência de uma serra de poda. Sinto muito desapontá-lo, mas simplesmente não é assim que estas serras funcionam. Pelo fato de serem curtas para a grossura que tem, e por mais que tenham um perfil agressivo e um desbaste na lâmina para que o meio desta lâmina seja mais fino do que a extremidade da serra, isso não é o suficiente para que a serra tenha um desempenho aceitável para esta finalidade. A única serra que vi que realmente serve a esta função é a famosa faca do Rambo, idealizada pelo cuteleiro Jimi Lile que pude ver por fotos esta serrando uma tora de madeira de tamanho considerável, e mesmo assim, não vi nenhum vídeo para saber qual a dificuldade que se teve para efetuar essa tarefa.
E qual é, então, o objetivo de manter uma serra como estas no dorso de uma lâmina pois é notório e sabido que a confecção de uma serra no dorso de uma lâmina a enfraquece substancialmente?
Simples. Quando se está na natureza usa-se efetuar uma série de entalhes em madeira, seja para encaixar uma haste em outra para fazer uma amarra mais resistente (abrigos, escadas, etc.), seja para fazer um degrau de um encaixe (uma armadilha, um alarme, um suporte para panelas, etc), seja para fazer um desbaste (uso como grosa na retirada de material de uma haste na confecção de um arco ou algo assim), enfim, são realmente muitos os usos desse recurso em lâminas de sobrevivência.


Detalhe do desbaste da lateral da lâmina para facilitar a entrada da lâmina da faca no material serrado. notem que o pé da lâmina é mais grosso que o meio desta e a base do fio é mais estreita que a parte da serra.

Por tudo o que explanei acima, acredito que a lâmina da Bucanero é adequada mesmo aos mais exigentes sobrevivencialistas. Vejamos agora outros pontos do conjunto.

O cabo: Feito quase que exatamente idêntico ao cabo da Jungle King 1, apenas com alguns milímetros a menos no comprimento, é fabricado inteiramente de aço inoxidável e, embora seja fabricado em duas partes, cabo e guarda, mas a união de ambos é feito por solda mig e usinado para não aparecer os pontos de emenda e parecer que são ambos uma única peça. Eu já vi lâminas de Bucanero quebradas mas jamais algum desses cabos partidos ou sequer entortados.
O cabo da Bucaneiro possui, de forma idêntica ao da Jungle King 1, cinco anéis recartilhados e equidistantemente dispostos ao longo da sua parte tubular e isso realmente auxilia em muito a reter a faca nas mãos, mesmo com estas sujas ou molhadas.
A guarda, que passa a compor uma única peça com a manopla tubular, é de menores proporções que a da Jungle King 1 e isso já é uma grande vantagem quando se utilizará a faca como uma utilitária ou para a cozinha e, assim como na série Jungle King 1 e Desert King, até onde eu pude perceber por fotos de algumas peças que saíram da fábrica sem a devida usinagem de acabamento, ou é feito por injeção ou por eletro erosão mas eu desconfio mais da primeira opção. Possui um furo em cada extremidade para que o usuário possa tanto colocar um cordão fiel para auxiliar na retenção da faca na mão em caso de uso extremo ou em uma luta, como também passar o cordão da bainha para amarrá-la a uma haste e confeccionar uma lança.



Detalhe da guarda sem a devida usinagem de acabamento onde se pode observar algumas falhas ou granulações típicas de peças fundidas pelo processo de injeção à quente e, uma linha em baixo relevo que me levanta a dúvida se esta parte também não seja feita em duas outras e soldada pelo mesmo processo já descrito e usinada posteriormente. Notem que esta peça está tão mal acabada que nem o chanfro nos furos da guarda foram feitos, deixando-os ainda com cantos vivos.
Outra coisa que chama a atenção é que as escritas na lâmina parecem ter sido feitas à laser e não por serigrafia CNC como nos dias atuais.


O acabamento dessa guarda, e das facas da Série Jungle King, é bastante vivo e pode até retirar a pele caso tiver que usá-la passando o dedo indicador por sobre ela para posicioná-lo mais próximo ao fio para serviços de maior precisão. Se eu pudesse sugerir ao fabricante uma modificação de acabamento, seria arredondar um pouco estas arestas para evitar este tipo de problema. Acreditem, já tive problemas sérios com esse tipo de coisa pois ao efetuar um acampamento de três dias no MS, onde eu morava, tive que fazer algumas estacas para amarrar as pontas da lona do rancho e algumas pioneirias como um tripés, uma cama de campanha, mesas, cadeiras, etc, com uma JKI e no segundo dia eu não podia nem pensar em apoiar o dedo por sobre a guarda pois a irritação da pele no vão entre o indicador e o polegar era perceptível a olhos vistos. Hoje, quando tenho alguma destas atividades para executar, procuro usar luvas para evitar contratempo e poder curtir mais o evento.
Dentro do cabo existe a tradicional cápsula com itens de auxílio à sobrevivência e os itens são os mesmos que a Jungle King 1, ou seja:
4- Band-ayds;
1- Pinça;
1-     Lâmina de bisturi (que juntos formam o kit de primeiros socorros);
2- Agulhas e um pequeno rolinho com duas cores de linha dentro de um pequeno frasco hermético;
2-     Alfinetes de fraldas (que formam o kit de costura);
3- Pequenos anzóis com 1,5m de linha 0,20 amarrada a cada um;
1- Pequeno rolo de linha de poliamida 0,20 extra com cerca de 3m de linha;
3- Chumbadas (que compõe o kit de pesca);
1- Pequenino lápis para anotações;
1- Rolinho com cerca de 1,5m de uma cordinha com cerca de 1,5mm para tarefas diversas.
Esse kit poderia ser um pouco melhor preparado pois que falta além de algum sistema de acendimento de fogo, um aparato para assentar o fio da faca quando o usuário estiver em uma situação real de sobrevivência de longo prazo pois que as tarefas de manutenção da vida podem exigir muito do fio de qualquer faca. Seria muito fácil para a AITOR dotar a bainha da faca com uma pedra para a afiação na bainha e uma simples barra de pederneira idêntica à da Jungle King 2 dentro da cápsula, haja vista que a Commando, sua sucessora tem uma cápsula mais restrita que a da Bucanero e já vem com a dita barra de pederneira.
O cabo é fechado por uma tampa rosqueada que possui em seu interior uma bússola com elemento líquido que, infelizmente vem colada à tampa. Ocorre que, as bússolas da AITOR estragam-se com uma facilidade muito grande e, mesmo que substituída, eu gosto de manter as bússolas originais guardadas, por preciosismo apenas, e isso é extremamente difícil de ser feito com essas bússolas pois, em alguns casos se consegue sacar a bússola com a aplicação de spray de WD-40, mas em outros, é necessário usar uma fresa e ai a integridade da mesma não pode ser mantida. Uma das coisas que eu nunca deixo de fazer é uma verificação frequente em todo o meu kit de sobrevivência de facas e, nessas verificações, pederneiras, prazos de validade de comprimidos de hipoclorito e medicamentos, ferrugem em anzóis, agulhas, alfinetes e bisturis, troca de linhas de pesca e, é claro, aferição das bússolas é algo da maior importância.
A tampa da bucanero, assim como a da JKI é feita de aço inoxidável e, embora seja arredondada, serve perfeitamente como quebra castanhas pois tem resistência apropriada a isso, embora vez por outra fará com que uma ou outra castanha espirre bem longe.
Para além destas funções, possui um passador para fiel que permite sujeitar a faca à mão de forma que evite que esta escape quando se está cortando madeira a golpes e já se está com as mãos estressadas e somadas ao maior diâmetro dessa tampa, auxilia a segurar a faca caso esta venha a escapar.
O tamanho da Bucanero é muito bom para a maioria das situações de sobrevivência. Particularmente eu gosto de facas de maior tamanho pois que poupa muita energia ao cortar-se galhos e troncos de diâmetro um pouco maiores para a confecção de abrigos e outras estruturas mateiras, mas me sentiria muito bem servido com uma Bucanero em mãos e em uma situação de emergência e seu menor tamanho auxilia muito no porte dentro de bolsas e mochilas.
Ainda quanto ao tamanho de facas para a sobrevivência, e defendendo os meus pontos de vista, tenho visto muita gente usar de facas pequenas para essa finalidade pelo simples fato de que elas são, realmente, mais leves e menos cansativas para o transporte, mas eu, em minha forma de ver, penso que aquela energia que o usuário economizou ao carregar uma faca pequena e sem recursos, ele irá gastar muitas vezes ao ter que ficar durante longos minutos cortando um galho ou um tronco de madeira para abrigo ou pioneirias. Claro que você pode apanhar um pedaço de madeira e usar para batonear esta faca, mas, em primeiro lugar, e o tempo perdido para encontrar esse tal porrete e, o esforço extra que sofrerá a sua lâmina com o battoning? E quanto à todos os acessórios que se pode carregar acoplados ou inseridos na faca ou na bainha e que são de dificílima ou impossível fabricação com elementos naturais. Quando eu escolho uma faca com mais recursos e maior peso, consequentemente, eu a uso na cinta que vai descarregar esse peso nas pernas que são o grupo muscular mais forte dos seres humanos, porém, quando eu vou batonear ou cortar um galho com uma faca pequena, eu estou utilizando os braços e mãos em uma atividade de repetição rápida, o que faz com que eu queime muito mais calorias e acabe sofrendo os efeitos da falta de recursos alimentares muito mais cedo. Respeito todos os que utilizam uma faca pequena e dizem que essa é uma atitude mais pé no chão, mas sempre que saí a campo para a construção de pioneirias, o que vi foi cidadãos que, depois de passar algum estresse com o seu equipamento e presenciar a falta de rendimento com esse equipamento, acabaram por sentar e deixar o serviço pesado por minha conta ou de outros companheiros que também utilizavam facas de grande porte ou facões e acabaram se eximirem do trabalho pesado, o que gerou certos atritos em algumas vezes, o que é perfeitamente compreensível quando se percebe que o fato torna-se recorrente. Em alguns poucos casos, parceiros de aventura passaram a utilizar lâminas maiores alegando que mudaram de ideia depois de ver o desempenho de uma lâmina de maior porte e sentiram-se incomodados por deixar as tarefas sem efetuar ou por terem menor rendimento por incapacidade das suas lâminas. Ganharam meu respeito pessoal não só pela resiliência em mudar de opinião, mas também por empenharem-se mais para ajudar, ficando incomodados em deixar as tarefas mais pesadas nas mãos de outros. É claro que existem exceções e, facas grandes são realmente mais desengonçadas para trabalhos mais delicados e de precisão, enroscam mais no mato denso, são mais lentas de sacar, enfim, mas mesmo assim, é mais fácil adaptar uma faca grande ao serviço de uma faca pequena do que o contrário. Para pequenas pescarias, saídas a campo para diversão, caçada de pequenos animais (desde que não se tenha que cortar madeira para fazer um apostadeiro), uma faca de médias a pequenas dimensões são perfeitamente dimensionadas mas para atividade de sobrevivência pesada ou bushcraft avançado eu sugiro uma faca de médias a grandes dimensões.


A bainha: Fabricada no mesmo material da maioria das bainhas de facas AITOR, em poliamida reforçada com fibra de vidro, a bainha das Bucanero são bastante simplistas e apresentam apenas a entrada para a faca sem mais gadgets ou acessórios. As correias seguem os padrões da AITOR com prendedores rápidos para o cinto e empunhadura, que eu , acho excelente para saque mas para prender a faca no local necessita as duas mãos, então, se você é como eu que gosta de portar a faca um pouco mais para as costas e não na lateral do corpo, vai ter um certo trabalho para conseguir “abotoar” a empunhadura na bainha com uma única mão.
O desenho da bainha foi meio que copiado da faca Buckmaster da Buck, norte americana que é contemporânea à Bucanero, e possui “asas” na sua lateral que servem para passar uma corda que é enrolada na mesma e, também, para incorporar um bolso de tecido de nylon denominado “cubierto Bucanero” que não é parte integrante do equipamento mas é vendido separadamente. Enrolado à bainha é fornecido 3,5m de corda de nylon com alma e resistência de 75,00kg, realmente muito útil em situações de sobrevivência na hora de confeccionar um abrigo de emergência, suspender um animal abatido, uma balsa ou armadilhas.
Na extremidade inferior a bainha possui um furo para escoamento de água e outro para a passagem de um cordão que serve para amarrar a bainha à perna e evitar que esta fique chacoalhando se o usuário tiver que correr. Na extremidade desse cordão existe uma presilha exatamente igual à da série de facas Jungle King da mesma AITOR.
Uma outra característica desta bainha é um recorte que esta tem na sua parte traseira que salienta-se para dentro da bainha, de forma que prende a faca na sua posição, não permitindo que esta fique chacoalhando dentro da bainha. Isso realmente é ótimo para situações em que se precise movimentar em silêncio, mas acaba por arranhar a lâmina da faca por causa do seu acabamento fosco e isso prejudica o acabamento para quem quer esta faca para coleção.


Nestas fotos de frente e perfil temos uma ideia das proporções da bainha da Bucanero e seu formato que é muito semelhante ao da Buck Buckmaster. O volume que se nota por baixo da corda na parte traseira da bainha é uma pequena pedra que eu coloquei lá para o assentamento do fio, porém, esta pequena pedra esta com os dias contados pois eu pretendo adquirir alguns afiadores de diamante que são mais finos, leves e duráveis que as pedras convencionais e, com a característica de não gastarem-se, deixando um perfil côncavo que prejudica a afiação perfeita da faca.


Acessórios: Como mencionei acima, é vendido como acessório um bolso feito em tecido de nylon que transporta um conjunto de talheres denominado “Cubierto Bucanero” e é composto de uma colher, um garfo e uma faca que também tem a função de abridor de latas. Estes talheres tem um cabo em forma de gota e, anteriormente eram esqueletonizados e tinham um rasgo também em forma de gota para alívio de peso mas, posteriormente, passaram a vir somente como um furo redondo.
O bolso possui dois compartimentos, um para os talheres e outro vazio para uso do proprietário da faca colocar coisas da sua utilização. No meu caso, eu adaptei um pequeno frasco de plástico que eu ganhei de meu irmão e que coube como se tivesse sido feito para essa função e eu preenchi com um kit mais eficiente de pesca, alguns fósforos à prova de tormenta, entre outras coisas de auxílio à sobrevivência.
Bom. Por tudo o que eu explanei aqui é que resolvi dar o título dessa matéria como "sobrevivência nas veias", pois essa faca é descendente direta de algumas das facas mais emblemáticas da Espanha e é idealizada a partir de uma família de ferramentas destinadas à essa atividade, porém, foi idealizada para ser leve e esbelta para não atrapalhar o dia a dia de soldados ou sobrevivêncialistas que queriam uma faca de médias dimensões mas de grande utilidade e rendimento.



Cubierto Bucanero. Os talheres em seu formato original com o vasado do cabo ainda em forma de gota, e o bolsinho que os acomodava.



 O bolso devidamente "abraçado" à bainha, a meu ver não acrescenta peso à esta e traz as enormes vantagens de dispor de talheres para acampamentos mais elaborados.

Um outro acessório que eu coloquei neste bolsinho e que coube perfeitamente sem apertar ou ter-se que abrir mão de outra coisa para a sua instalação foi uma pederneira de grandes proporções (Ø1cm) e, agora sim, um acessório para acendimento de fogo com maior prazo de duração.


Segundo fui informado pelo meu irmão, esse pequeno recipiente foi adquirido com balinhas de ortelã e eu já procurei algum dessa natureza com idênticas dimensões e não encontrei.

Outro acessório que, não foi feito para esta finalidade, mas que se encaixa tão bem quanto o outro é conjunto denominado de “Cubierto de Campo” que é muito similar ao “Cubierto Bucanero”, mas que, em vez de possuir a colher, o garfo e a faca, possui a colher, o garfo e um canivete de duas (ou três) lâminas denominado “Gran Capitan”, que cumpre a função da faca. Este canivete possui uma lâmina de corte e outra multifuncional agregando as funções de abridor de latas, abridor de garrafas, serra para escamar peixes, chave de fendas e um rasgo central que serve para desatarrachar porcas/parafusos. Alguns modelos deste canivete apresentam uma terceira lâmina que é um saca rolhas e os modelos mais novos apresentam uma mosca curva na base da lâmina principal que alguns dizem servir de cortador de charutos à moda tesoura junto com a lâmina multifuncional ao lado mas eu acredito mais que seja um raspador de pederneira, embora esta não acompanhe o conjunto

Este último bolso não apresenta o bolsilho menor acoplado à frente à moda canguru como o “Cubierto Bucanero” e também não possui as fitas laterais com velcro para passar pelas "asas" da bainha mas sim um passante de cinto em alguns modelos e um acessório tipo "ALICE" clip para ser acoplado em cinturões militares em outros modelos, mas isso é perfeitamente contornável usando-se uma fita de velcro.



Cubierto de campo e suas opções. Canivete de duas lâminas, garfo e colher.



Sistema de fixação tipo "ALICE" para cinturões militares que serve perfeitamente para cintos normais também mas que atrapalha um pouco para a acoplagem a uma faca.


O bolso também pode ser encontrado em variações de cor e tecido, sendo que o modelo luxo vem em cordura negra com as bordas do arremate para a costura em pelica negra ou marrom mas outros modelos podem vir em um tipo de poliamida verde, areia ou em tons camuflados tanto em padrões verdes para selva quanto em tons marrons e areia para deserto.





Como se pode ter uma ideia, desde a sua concepção, a Bucanero foi idealizada para servir a soldados em campo de batalha e eu creio que é uma ferramenta mais do que acima de qualquer expectativa mesmo para as melhores tropas de elite do planeta considerando que as melhores facas militares empregadas no mundo não compõe um conjunto de funcionalidade tão efetiva quanto ela, mas... sempre se está sujeito ao gosto do alto comando militar para a adoção de equipamentos e o que voga nas cabeças da maioria destes elementos que detém o poder é a simplicidade e... Preço.



Descontinuação
O que eu suponho é que com as experiências adquiridas no primeiro projeto de intento de adoção pelas FA dos EUA, a AITOR tentou desenvolver um novo equipamento que possuía melhorias onde os militares enxergaram fraquezas no projeto Bucanero, ou seja, o cabo não ser anatômico, não possuir a pedra de amolar, não possuir o sistema de acendimento de fogo, etc, e foi o que gerou o projeto COMMANDO que visava atender aos quesitos de escolha de adoção pelas FA germânicas que também estava em vias de substituição do seu equipamento e que será abordado por mim em breve em futura postagem. Desta forma, e com um outro modelo que utilizaria o mesmo tipo de lâmina que a Bucanero mas com claras melhorias, os diretores da AITOR resolveram descontinuar esse modelo.
Eu não sei quantas unidades dessa faca foram vendidas mundo afora, mas, vez ou outra aparece uma ou outra para ser vendida aqui mesmo no Brasil pois muitas destas unidades foram importadas via Paraguai ou mesmo diretamente da Espanha por pessoas que tinham negócios neste pais. O mais comum é que se encontre o modelo inox jateado e eu realmente só cheguei a ver um exemplar banhado ao cromo negro à venda aqui no Brasile que agora está na minha coleção. Vez por outra se vê desses modelos à venda em tendas na Espanha ou nos EUA a preços até razoáveis, mas o que mata são os malditos impostos de importação.

CONCLUSÂO.
Como fechamento desta matéria, o que tenho a dizer é que, tanto para a pescaria ou caçada de fim de semana, para acampamentos de média ou longa duração, para a prática de bushcraft ou mesmo para situações extremas de sobrevivência, e embora tenha claras limitações em comparação com as outras facas do gênero da AITOR, vejo a Bucanero como uma rival quase impossível de ser batida se comparada a outras facas de sobrevivência industriais ou artesanais de todo o mundo, tanto pelo material empregado na sua confecção quanto pelas qualidades técnicas empregadas na fabricação, design e detalhes ou sub-funções agregados ao projeto. Como já disse anteriormente, Dom Pedro Maria Izaguirre Acha era realmente um homem muito à frente do seu tempo e alguém que apostava pesado em cutelaria de primeira linha aplicando materiais, processos construtivos e acessórios unidos a um design realmente de forma e função soberbos.