Para falar desse tema, teremos que
retornar só um pouquinho na história, ou melhor, na pré-história.
Pra quem não sabe,
o arco e flecha é o primeiro instrumento mecânico composto por mais de um
elemento desenvolvido pelo homem. Alguns dos leitores devem estar me
perguntando: _Mas como assim, e o atlatl? Bom, entenda-se por mecânico uma
ferramenta que é capaz de armazenar energia aplicada de uma forma e convertê-la
em outra com alguma vantagem, ou seja, o arco recebe a energia do arqueiro em
forma de esforço, aplicado de forma lenta e a devolve para a flecha em forma de
esforço e velocidade, o que, sem dúvida auxilia no vôo rápido da flecha para
dar a esta um maior alcance e poder de penetração. O atlatl também aumenta a
velocidade da flecha, mas só o faz por causa do aumento da distância entre o
entroncamento do braço do atirador e o ponto de partida da flecha, logo, se o
braço do atirador fosse tão longo quanto o conjunto braço+atlatl, a velocidade
da flecha arremessada pelo atirador sem o mesmo seria muito próxima do que com
o uso deste sistema de disparo, ele não armazenou energia, apenas a transferiu.
Você poderia dizer: _Ah! Mas a flecha também tem um ganho mecânico quando esta
se curva com o empuxo no disparo com o atlatl e se estica depois do disparo.
Sim, mas esse fator é desprezível como ganho de velocidade/energia pois isso
vai depender muito da força do atirador.
Pronto, passando
por esta informação inicial e, talvez inútil, vamos ao que realmente interessa.
O grande mistério
em relação ao arco e flecha é o de que praticamente todos os povos humanos
desenvolveram algum tipo de arco e flechas, alguns mais outros menos
eficientes, mas basicamente com os mesmos elementos, ou seja, uma vara curvada
por uma corda que armazena energia para disparar uma outra vara mais fina com
uma ponta dura e aguda e que tem algum sistema de arrasto para garantir que sempre
dirija-se ao alvo com a ponta voltada para este.
As primeiras
tribos que se tem notícias que utilizavam arcos e flechas usavam apenas varas
longas amarradas com uma linha feita de fibras vegetais, viceras tendões ou
couro de animais, e atiravam outras varas com pedaços de pedra lascada na
extremidade anterior coladas com resinas de árvores e amarradas com os mesmos
tipos de fibras, sistema este que já era utilizado nas lanças desses primeiros
hominídeos. O uso das penas para gerar arrasto e conseqüente melhorar a direção
do tiro veio bem depois.
Durante esse
primeiro período, a distância de efetividade deste equipamento era muito
pequena, algo em torno de 10
metros , mas lembremo-nos que 10 metros para um ser
humano da época era muito, pois para se capturar um animal usando paus e pedras
a esta distância já é muito difícil.
Primeiros hominídeos a utilizar um arco e flecha
Fonte da imagem: Blog "Histórias e curiosidades"
Bom, como todas as invenções humanas, o
arco evoluiu, passando a ter um trabalho de desbaste em uma extremidade para
que curvasse de forma idêntica à outra e, dessa forma, pudesse ter mais
eficiência e durabilidade, além de melhorar na precisão, as flechas também
passaram a ter as penas amarradas de forma longitudinal e não mais simplesmente
atadas à extremidade posterior das hastes e, depois passaram ainda a serem
amarradas de forma helicoidal, o que melhora sensivelmente a precisão das
mesmas.
Arco de madeira desbastada
Fonte da imagem: Blog Arco e flecha para iniciantes, iniciados e interessados em arco e flecha.
Alguns povos passaram a fabricar seus
arcos com bambu revestido com chifres animais colados com uma cola feita de
couro derretido que, além de aumentar muito a durabilidade, ainda aumentava a
distância do disparo. Tais arcos eram feitos tanto com a finalidade de caça
quanto de guerra e podiam ser disparados contra pelotões a até 500 metros de distância,
a partir de muros de fortificações.
Arco mongol feito com chifres de búfalo, bambu e madeira.
Fonte da imagem:Arqueirismo.blogspot
Em alguns períodos da idade média também
foi empregado o aço para a fabricação de arcos, o que garantia uma maior
durabilidade e menor preocupação do arqueiro quanto a cortes nas fibras das
madeiras dos arcos de então
As flechas também
evoluíram, e passaram a ter algumas medidas de adequação para um bom vôo com os
arcos da época pois, como os primeiros hominídeos usavam somente o que tinham à
mão, os homens da idade média já podiam escolher uma grande gama de formato de
pontas, madeiras específicas para conseguir uma flexão perfeita na largada da
corda e até mesmo encaixes para a corda que eram feitos de chifre ou osso e
inseridos e colados nas rabeiras das flechas, garantindo assim que mesmo nas
condições mais duras de caça, o arqueiro não se depararia com nock's quebrados
ao se aproximar de uma caça.
Réplica de flecha pré-histórica.
Fonte da imagem: Blog Um beijo e um queijo
O advento do F. O. C. e do spine só vieram
bem depois, na idade moderna.
Na idade moderna, depois da criação de colas para madeira que garantiam uma excelente adesão, passou-se a usar a técnica da marchetaria que é a colagem de lâminas de madeira para aumentar a resistência desta aos esforços que um arco exige. As madeiras eram então selecionadas e laminadas depois de secadas em estufas especiais para garantir um baixo coeficiente de empenamento e um auto grau de resistência à flexão.
Depois de selecionadas
as madeiras a serem usadas, estas são cortadas na largura e grossura ideais e
lixadas para garantir uma uniformidade de espessura e superfície para dar ao
arco, depois de pronto, uma flexão uniforme e pressão constante.As
empunhaduras, também confeccionadas com algumas colagens de lâminas para efeito
visual ou servirem de reforço, eram trabalhadas para dar ergonomia e
estabilidade ao arco. Sistemas de medição de tensão, de uniformização da
curvatura, de recurvamento e até a aplicação de lâminas de fibra de vidro entre
as lâminas ou nas costas e barriga deste para reforço e para garantir uma maior
velocidade à flecha transformaram essa ferramenta pré-histórica em um
instrumento de alta precisão e desempenho elevadíssimo.
Modernos arcos tradicionais feitos por marchetaria.
Fonte da imagem: Site do fabricante Black Widow Bows.
Nos últimos 50 anos, o arco e flecha deu
uma guinada com a criação do arco composto ou de roldanas como é vulgarmente
conhecido e isso alterou drasticamente tanto a forma quanto as características
de desempenho desse equipamento.
Criado no fim da
década de 60 por um projetista chamado W. H Allen que queria aumentar a
velocidade dea flecha disparada e, conseqüentemente, garantir abates mais
limpos de animais, esse equipamento tinha um par de polias elípticas em cada
extremidade das lâminas que eram mais grossas e potentes que as dos
tradicionais da época. Os ganhos em matéria de velocidade eram mínimos mas o
efeito de alívio de esforço causado pelo formato da polia ao final da puxada
acabava fazendo com que os arqueiros pudessem puxar pesos de tração mais
elevados e reter a corda na posição de puxada plena por mais tempo acabou
agradando alguns caçadores. A partir desse período, até os dias de hoje, esse
equipamento evoluiu vertiginosamente a ponto de ser considerado, ao lado da fórmula
1, um dos esportes que mais tecnologia incorporou. Seja nos modernos
equipamentos de CNC para confeccionar empunhaduras, cames e acessórios, no
desenvolvimento de novas ligas metálicas para empunhaduras e tubos de flechas,
de resinas e fibras para as lâminas (ou limbs) e para os tubos de flechas e,
mais recentemente, na criação de novos tipos de fibras para a confecção de
cordas e cabos, os arcos modernos estão paralelos aos carros de fórmula 1,
empregando, inclusive, tecnologias muito parecidas em ambos os casos.
Arco composto Allem, o primeiro nessa categoria criado em 1969.
Fonte da imagem: Site Archery history.
Pra quem não sabe, as roldanas são na
realidade polias excêntricas (com seu eixo fora de centro), elípticas ou cames
que tem a função de aliviar o esforço feito pelo arqueiro para manter o arco
retesado no momento de tensão máxima da corda e multiplicar a força e
velocidade da corda no momento do disparo, aumentando assim o alcance e
velocidade da flecha e dando ao arqueiro um maior tempo para fazer a pontaria
sem cansar-se demasiadamente.
Os arcos de hoje
são capazes de desenvolver altíssimas velocidades de flechas e, desde que
corretamente trabalhados, abater alvos da proporção de cervos a distâncias
superiores a 100 metros ,
mas veja bem, eu disse que são capazes e não que isso é viável pois é muito
difícil para um ser humano conseguir colocar uma flecha dentro de uma área
vital de um animal a uma distância destas, portanto, a faixa de utilização
desse tipo de equipamento para esta prática fica em torno dos 10 metros para
iniciantes, 20 a
30 para arqueiros mais experientes e até próximo dos 50 par arqueiros
excepcionais. Eu lí em um artigo no site da "Edersbow.com" que para
que um arqueiro possa sair da sua casa para se aventurar na caça com arcos ele
deve ter a certeza de que consegue acertar um alvo do tamanho de um punho a
cerca de 20 jardas
de distância em 100% das vezes que disparar nele, portanto, é parte do
quotidiano do arqueiro aquela máxima que diz que: "A prática constante
leva à perfeição", mesmo porque, as habilidades desenvolvidas na arqueiria
são perecíveis, ou seja, se não praticar constantemente, acaba perdendo.
Outra coisa a que
se deve prestar muita atenção é quanto à força da puxada. Se puxar um arco
muito fraco, este pode não ter energia para ser mortífero em caçadas; se usar
um arco muito forte, pode vir a ter problemas na musculatura e articulações
decorrentes de esforços inadequados ao seu biotipo, porém, esses dois últimos aspectos
eu vou esmiuçar em artigos futuros pois cada um pode gerar assunto para um post
inteiro.
Seja qual for o
tipo de arco que você gosta e pretende praticar, todos eles tem várias coisas
em comum e uma delas é que a negligência à segurança pode trazer conseqüências
desastrosas e, até mesmo fatais.
Nunca considere o
seu arco como um brinquedo, mas como uma ferramenta para a prática do tiro que
requer concentração, força e um ambiente apropriado para tal.
Acompanhe minhas outras postagens para saber como escolher corretamente o equipamento dos seus sonhos e quais as técnicas de tiro mais adequadas e que trasem melhores resultados.
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