terça-feira, 16 de setembro de 2014

Como montar um kit de acampamento 2ª parte.

Necessidades básicas.
Para que um kit de sobrevivência seja próximo do ideal, deve auxiliá-lo a conseguir manter se vivo em condições razoáveis de integridade e, para isso, deve auxiliá-lo a conseguir os elementos vitais que são água, comida, fogo e abrigo, então, comecemos pelo mais emergencial.

Água
Vive-se muito pouco tempo sem água, e principalmente nas matas do Brasil que são quentes e úmidas, provocando a sudação excessiva e consequente perda de sais. Conseguir água na selva não é tão fácil como nos vídeos e filmes, mas sempre é possível desde que se saiba onde e como procurar, para tanto, deve-se estudar a fundo como encontrá-la. Pode ser a partir de cipós, de minas, de rios ou mesmo de poças d’água, mas nesses casos, sempre será em pequenas porções e em todos os casos será necessário fazer o tratamento dessa água e, para isso, deve-se ter sempre alguma coisa que ajude na purificação, sejam filtros de bombear, canudos com elementos filtrantes, recipientes onde se possa ferver a água, ou mesmo elementos químicos que desinfetem sua porção de água, então, vamos ver alguns métodos mais comuns.

Tratamento químico – Um pequeno frasco com solução de iodo 5%, bastam 5 a 7 gotas dentro de um cantil de água e a água estará potável em cerca de meia hora.
É bom? Não, não é! Deixa a água com gosto muito ruim, de remédio, tanto que nos força a evitar bebê-la e isso é um risco à saúde, por esse motivo, eu levo também um pouco de ácido ascórbico preparado em um laboratório de manipulação (na falta destes, uma pastilha de Cebion servirá quase que adequadamente) para ser usado para retirar o gosto ruim da água, bastam 5 a 10 gotas (ou uma pastilha de Cebion) que o gosto ruim some em alguns minutos. Porém, esse método não deve ser empregado por quem possui problemas com hipertireoidismo pois pode causar problemas gástricos, náuseas, vômitos, diarreias e sintomas cardiovasculares.
Frasco de tintura de iodo na concentração de 2%

Outra forma, muito mais eficiente e mais prática de se purificar a água é a utilização de comprimidos de clorin plus que na realidade é hipoclorito de sódio concentrado (ou simplesmente cloro), ou seja, aquele mesmo composto existente no alvejante de roupas ki-boa que, a propósito, também pode ser usado, bastando 2 gotas para cada litro d’água (desde que esteja na concentração de 5%), mas que também deixa sabor na água, porém, também pode ser resolvido com algumas gotas de limão (vitamina C). Para transportar esses líquidos, coloque-os em um frasco de plástico flexível, destes de colírio ou de dipirona previamente lavados cuidadosamente. Existe em algumas farmácias um frasco de hipoclorito de sódio para ser vendido sob o nome de hidrosteril que já vem com a concentração correta, em um frasco portátil similar ao descrito acima e que se utiliza na proporção recomendada de 2 gotas por litro d'água, deixando descansar por 15 minutos. Os preçoes deste hidrosteril ficam em torno dos R$15,00 a R$18,00. Particularmente eu achei muito prático.

 
Acima, parte traseira do frasco de Hidrosteril onde mostra as quantidades tanto para a adição na água quanto para a higienização de frutas e verduras e até de chupetas e bicos de mamadeira.

Opte pelo que for mais fácil de encontrar, alvejante, comprimidos de hipoclorito, iodo e ácido ascórbico ou hidrosteril, pois todos esses produtos tem prazo de validade e assim, fica mais fácil a sua reposição no equipamento.
Uma observação deve ser feita para quem se utiliza de cantis do tipo militar, esses cantis comportam de 800 a 900 ml de água e os elementos de purificação acima descritos são feitos com dosagem para 1000 ml de água, então, um cantil que teve a sua água purificado com esses materiais terá sempre uma super dosagem de cloro ou iodo, o que pode provocar problemas estomacais devido ao efeito corrosivo do cloro. Outra coisa que se deve ser observada é que água encanada da rede de saneamento já vem clorada (e muitas vezes com excesso de cloro), então, nunca use colocar mais clorin nessa água sob risco de problemas graves de saúde.

Filtros - Existe hoje no mercado um filtro denominado “life Straw” que filtra 1000 litros de água e que, além de filtrar a água de partículas indesejadas, também elimina (segundo o fabricante) 99% dos micro-organismos nocivos aos seres humanos, pois que também faz o tratamento químico da água através de produtos adicionados ao elemento filtrante. Eu não confio 100% em nenhum método de filtragem, portanto, acho esse tipo de equipamento bastante problemático, pois como ele filtra a água por sucção isso impede de que você possa fazer outros tipos de tratamento na água, afinal, ela já estará dentro da sua boca logo após sair do filtro. Os elementos químicos dentro do filtro irão se desgastando com o tempo, então a pergunta é, eles duram até o limite de vida útil do filtro? Em outra observação eu também perguntaria. E os ovos desses micro-organismos, o tratamento químico é eficiente neles também? Pelo sim e pelo não, eu prefiro outros métodos de tratamento da água pois na cidade, uma diarreia é só uma diarreia, nada que uma ida à farmácia ou, no pior dos casos um pernoite em um PS não possa resolver, mas em ambientes extremos isso pode significar muita dor e sofrimento ou algo ainda pior.
Eu sei sobre as garantias do fabricante, sua idoneidade, também sei que soldados de diversos países desenvolvidos usam esses filtros e até soldados brasileiros no Haiti e em Angola utilizam um outro filtro de fabricação nacional chamado H2Life que se utiliza de um processo parecido mas de porosidade menor ainda e que promete até mesmo transformar a urina em água potável, mas mesmo assim sou muito cético e prefiro modelos que me permitam utilizar de outras formas de tratamento (química ou fervura).

Filtro Lifestraw, a garantia do fabricante é que retira 99% dos seres vivos nocivos encontrados na água.


 Existem outros tipos de filtros como o Katadyn que funciona por ação de uma bomba que o usuário bombeia e esta succiona a água e a força a passar por um filtro de cerâmica e carbono com mesh 0,2 microns, o que, segundo o fabricante, é capaz de reter até o menor dos protozoários e bactérias e filtrar até 13.000 litros de água sem necessidade de troca do elemento filtrante e, mesmo que não os faça, ainda são melhores pois permite que se possa coletar a água em uma vasilha e tratá-la depois e, ai sim, estaremos garantidos. 
O modelo acima é feito em aço e alumínio e resiste a mais de 11 anos de uso diário e é capaz de filtrar 13.000 litros de água sem a necessidade de troca do elemento filtrante.

 Existem alguns filtros chineses muito mais baratos e que também garantem esse grau de filtragem e que, mesmo que não seja exatamente isso, também permitem o tratamento químico ou por calor da mesma forma que o Katadyn e, pra mim, retirando a maioria dos seres nocivos, das partículas sólidas, sabor e odor da água já é o suficiente pois eu sempre vou tratá-la posteriormente. O seguro morreu de velho.
Eu tenho dois modelos em uso, um deles é uma cópia do Katadyn menor que o mostrado acima e filtrágem por cerâmica e carvão e o outro é um Miniwell que se utiliza de um tipo demembrana que é utilizado em dialize sangüínea para fazer a filtragem da água.

Acima vemos o Miniwell que usa membranas utilizadas em diálizes sangüíneas para fazer a filtragem da água e garante a filtragem de até 0,01 microns e 1000 L, dependendo da qualidade da água. 

Coleta e fervura - Deve prover o seu kit com um bom cantil, desses militares com caneco e capa para facilitar o transporte. Se conseguir também o fogareiro que é acoplado a ele, é muito bom, pois com ele pode-se ferver água com muito pouca lenha e tempo. Caso não queira carregar muito volume, uma garrafa d’água destas descartáveis pode ser usada para a fervura da água, desde que não deixe entrar em contato com as chamas. O gosto da água fica terrível e libera toxinas na água, mas pense assim, pelo menos não vai morrer de diarreia. Uma coisa que se deve prestar atenção nos cantis é que os antigos cantis do EB eram de alumínio e, portanto, se podia colocar a água logo após a fervura dentro dele e colocá-lo para esfriar dentro de algum riacho ou algo do gêero, e até mesmo ferver a água diretamente nelem somente tomando o cuidado de retirar a tampa para não derreter o vedante, assim é mais fácil de ser feito do que diretamente no caneco. Existem alguns modelos de alumínio hoje em dia, mas atente para não ser daqueles modelos que tem uma emenda no meio pois podem ter elementos vedantes entre as bordas da emenda que poderão derreter sob calor de uma fogueira. O único inconveniente que vejo nos cantis de alumínio é o barulho que fazem quando estão parcialmente cheios e a água começa a balançar dentro dele pois o alumínio reverbera o ruido bem mais que o poliuretano.

Cantil de alumínio com caneca ideal para a fervura e resfriamento rápidos da água.

 Lenço ou bandana - Adote a postura de carregar um lenço grande ou uma bandana de material que tenha a trama fina, tal como o brim ou um tecido de algodão previamente lavados e preferencialmente alvejados. Esses dois tipos de tecido, depois de lavado costumam entrelaçar suas fibras, fazendo com que o espaço entre elas fique menor e, portanto, sirva como um filtro mais eficiente. Pode usa-lo exatamente para esta função, para fazer a primeira filtragem da água, livrando-a de partículas maiores e sujidades leves que, do contrário, irão entrar no caneco no momento da retirada da água do ambiente. Esse lenço servirá também para coletar água de orvalho pela manhã bem cedo ou depois de uma garoa fina ao ensopá-lo na vegetação úmida e torcê-lo dentro do cantil. Em alguns casos de calor muito extremo, pode usá-lo também para umedecê-lo com água e envolver o pescoço, pois as artérias mais grossas do organismo passam por ali e, arrefecendo essa parte, pode fazer com que o sangue mais fresco irrigue boa parte das veias periféricas e ajudando a corrigir os efeitos da exaustão por calor. Por fim, pode usá-la para a confecção de um filtro de três estágios para ter águam límpida e sem gosto e cheiro, mas lembre-se, sempre utilize métodos de tratamento dessa água depois da filtragem.
Filtro de três estágios.


Alimento
Alimentação pronta.
Parece meio estranho carregar alimentos para uma excursão de sobrevivência, mas é assim mesmo que deve ser, pois quem garante que você vai conseguir arranjar alimento na hora que necessitar, principalmente no primeiro dia onde serão tantas as tarefas a serem feitas que o que menos terá é tempo para ir atrás de alimentos e sobrará fome devido às tarefas executadas que exigirão raciocínio e atividade. Se você se sair bem e não precisar do alimento que levou, ótimo, traga-o de volta e reaproveite na próxima. Isso mostra que você está amadurecendo nesse tipo de atividade e que já pode se considerar um expert em conseguir alimento naquele ambiente que freqüenta, é hora de ir em busca de novos locais com maior dificuldade.
Pão – Quando levar alimentos rápidos é o que deseja, nada mais rápido do que o pão. Procure levar pães de forma que já vem empacotados e cortados e, se mantidos confinados dentro do saco, ficarão macios por bastante tempo. Se você gosta de pães integrais, estes também tem essa mesma propriedade. Margarina e manteiga derretem com facilidade longe da geladeira, então, procure levá-las em recipientes estanques. Mel de abelha em bisnagas também podem ser levados, desde que bem lacrados.
Sopa instantânea – Isso já virou tradição entre os campistas e pescadores, pois é um tipo de comida que ocupa pouquíssimo espaço e não necessita temperos e já vem pronta, além de perder-se muito pouco tempo para a confecção e, com isso, também menos recursos naturais para a confecção da fogueira.
Arroz – Existem no mercado à venda alguns pacotes de arroz parborizado que você cozinha dentro de um saquinho plástico. Esse arroz não necessita de tempero ou óleo para a fritura do mesmo, basta colocá-lo na água fervente e esperar que cozinhe, abri-lo e comer. O sabor é agradável. Costumava levar dois pacotes para cada dia de estadia em acampamento, mas não tenho encontrado mais deles a um bom tempo.
Barras de cereais – São para os horários entre as refeições em que bate aquela fominha e da uma falta de energia. São ótimos repositores de sais e vitaminas, embora dêem uma sede depois.
Bolachas e biscoitos – Algumas bolachas dessas que vem em pacotes grandes, mas divididas em vários pacotinhos menores. Servem para um café da manhã ou para aquela fominha fora de hora.
Cappuccino – Também para o café da manhã. São práticos, pois não é necessário levar nem leite nem açúcar e nem café instantâneo separadamente, o que fatalmente iria ocupar mais espaço pois o cappuccino já vem normalmente em práticos potes.
Amendoim – Amendoim torrado constitui uma grande fonte de energia, além de manter o seu organismo trabalhando, pois depois de um pobre café da manhã, almoço ou jantar, o seu organismo pode querer mais alguma substância para abastecer-se, então, o amendoim é muito bom nesse quesito. Também antes das refeições, um bocado de amendoim pode arrefecer a fome.
Óleo – Levo também um pequeno frasco plástico (anteriormente era um de Milanta, um remédio para má digestão), cheio de óleo de soja para o caso de querer fritar algum peixe ou um pequeno pássaro ou mesmo para limpar a pele de algum parasita como carrapato ou piolhos. O óleo também ajuda muito na hora de acender uma fogueira com madeira molhada (derrame algumas gotas de óleo sobre gravetos finos, papel ou papelão corrugado e use uma vela para acendê-los). Pode ser muito útil também na confecção de lamparinas para a iluminação, se tiver algum frasco de vidro ou uma latinha de chumbinho para espingarda de pressão.
Bacom defumado – Além de ser uma excelente fonte de gordura podendo ser comido frito mesmo sem a adição de óleo, pode-se derramar a gordura derretida sobre madeira úmida para acender a fogueira. A casca ou couro que não é aproveitado como alimento sempre acaba por conter um pouco de gordura depois de ser retirado, apanhe um pedaço de algodão, paina, penugens de aves ou o pendão de taboa desfiado e esfregue nessa gordura e depois acenda, o fogo irá durar bem mais. O bacom defumado não estraga, mas deve-se levá-lo bem empacotado, pois do contrário fará uma grande lambança dentro da mochila. A título de informação adicional, os esquimós fazem fogueiras empilhando ossos de focas e colocando sobre estes um pedaço de trapo de tecido ou estopa umedecido na gordura deste mesmo animal e acendem, depois que este incendeia, enrolam parte deste em um pedaço de gordura e deixam-no queimando, o calor que aquece a gordura a faz derreter e as gotas que escorrem pelo trapo o mantém queimando por mais tempo, até impregnar os ossos com esse óleo e estes também começarem a arder, de tempos em tempos eles substituem o pedaço de gordura para re-avivar o fogo e assim aquecerem seus abrigos. Outra forma utilizada é com uma calha de metal que enchem de areia e embebem em gordura derretida de foca e ateiam fogo com o auxílio de um trapo também embebido, desta forma, conseguem uma fogueira pequena, mas extensa e, assim, uma área de aquecimento melhor do abrigo.

Alimentação natural
A dificuldade na obtenção de alimento é muito grande na selva, pois, devido à grande variedade de vegetais existentes nesse ambiente, torna difícil identificar quais as espécies são comestíveis ou não, então, a coleta de alimento recai basicamente nos alimentos de origem animal.
Caça
Esta prática é proibida no Brasil, exceto em caso de pessoas com risco de morte por falta de alimento, de pessoas que não tenham onde comprar alimentos por impossibilidade de distância ou de catástrofes naturais ou, ainda, aos silvícolas, pois que significam o último recurso destes. Então, abre-se uma exceção para estes casos.
Linha de nylon - Coloque em seu kit alguns metros de linha de nylon de multifilamento preferencialmente verde no diâmetro 0, 30 e 0,40 mm para a confecção de armadilhas, uns 20 m de cada deve ser mais que suficiente.

Rolo de linha de multifilamento.

Argolas de chaveiro - Pelo menos umas cinco argolas destas de chaveiro para fazer a linha correr por dentro dela quando montar armadilhas, pois se o fizer passando por volta de galhos, esta tende a cortar o galho, penetrando na casca e travando a armadilha, então, amarra-se a argola no galho e passa-se a corda por dentro dela para que deslize livremente.
Argola de chaveiro.


 Cabo de aço encapado – Leve alguns metros de cabo de aço fino e encapado, desses que se usa para fazer empates em anzóis. Procure um que tenha resistência mínima de 50 lbs. (± 23 kg). Leia artigos de como confeccionar armadilhas e pratique sempre que possível, mas lembre-se de desarmá-las antes de ir embora, pois que pode significar risco a algum desavisado. Embora esta forma de caça seja muito repudiada por muitos, é a forma mais segura de se conseguir alimentos de origem animal, mas só é recomendada em caso de vida ou morte pois além de desumana é ante-desportiva.

Cabo de aço com 1 mm e encapado com nylon.

Arames de aço – Pode substituir os cabos de aço por arames de aço finos e com aproximadamente a mesma resistência. Arames destes que se usam em cercas elétricas servirão muito bem a esta finalidade. Faça um rolo de aproximadamente 10 a 15 m. deste arame que servirá para fazer o fio de tropeço pois é fino o suficiente para não ser notado pelos animais e não esticará, desarmando a armadilha sozinha, ou mesmo esticará na hora certa de desarmá-la. Arames de aço inoxidável são uma ótima opção também, mas necessitam ser enegrecidos passando-os pela fumaça de madeiras resinosas.
Rolo de arame de aço inoxidável.

Atiradeira – Compre um modelo comercial compacto ou confeccione você mesmo uma o mais leve e compacta para ocupar pouco espaço. Se tiver acesso a tarugos de duralumínio ou aço inox com diâmetro entre 6 e 8 mm serão ótimos, senão pode fazê-lo com ferro de construção ؼ”, confeccione uma forquilha compacta usando maçarico para dobrar o material (não o alumínio, senão derreterá) e faça um estilingue. Amarre a borracha, tanto na malha quanto na forquilha com linha de seda encerada e enrole mais uma boa quantia desta linha na forquilha para que possa fazer reparos de campo. Pedras são a munição mais fácil e rápida de serem encontradas na natureza e as atiradeiras são armas bastante eficazes em mãos habilidosas, portanto, pratique de vês em quando pois as habilidades conseguidas com armas instintivas (atiradeiras, arcos, fundas, zarabatanas) são perecíveis, ou seja, se não praticar de vês em quando, perde-se.
Atiradeira da marca Trumark. Escelente material e acabamento.

Dica 1- Para a confecção de atiradeiras, o ideal é você deixar uma porção de borracha sobrando na amarração junto à forquilha, pois se uma das pernas da sua atiradeira vier a arrebentar, solte a amarração da forquilha, emende a perna que ficou junto à malha com a da forquilha e depois amarre-a novamente na forquilha, assim terá uma sobrevida nesse equipamento.
Dica 2 – Lembre-se que a perna da atiradeira não deve ser maior do que um palmo da sua mão (distância entre a ponta do dedo polegar e mínimo), pois senão, além de não conseguir precisão com ela, pode ser que ela enrole a pedra na malha e faça-a voltar de encontro a você, com conseqüências, no mínimo dolorosas.
Dica 3 - Cuidado na hora de amarrar as pernas da borracha na forquilha, primeiro amarre a malha e depois, verifique se esta não ficará enrolada depois de pronta.

Pesca
É ai que repousam as nossas maiores chances de sucesso na obtenção de alimento, logo, seja generoso na confecção do seu kit de pesca.
Linha- As melhores são as de multi-filamento trançado, pois que tem muita resistência e desgastam-se pouco se deixadas em um kit por muito tempo. As linhas de mono-filamento geram um “efeito memória” se deixadas por longo tempo enroladas em rolos finos, o que as deixa com aspecto de mola depois de desenroladas, dificultando a fisgada de peixes mais astutos e ligeiros. Caso o recipiente que vá utilizar para guardá-las seja pequeno, opte pelas de multi-filamento que darão menos dor de cabeça na hora de desenrolar. Porém, se levar as linhadas já prontas, as de multi-filamento costumam enroscar nos anzóis que ao serem retirados desfiam as linhas, então, para cada caso um tipo de linha deve ser usado.
Linhas nos diâmetros 0,15, 0, 20, 0,30 e 0,40 são até mais do que o necessário para qualquer situação de aperto. Leve uns 10 m de cada diâmetro.

Anzóis- É ai que as opções dão trabalho. Existem tantos modelos e marcas diferentes no mercado que chega a ser difícil a escolha. Faça alguns testes em casa e escolha as marcas e modelos que mais gostou, procure os anzóis com hastes médias pois hastes longas ou curtas são mais específicos para determinados tipos de peixes e as hastes médias são mais genéricas,  verifique a resistência ao entortamento apertando a sua volta (gancho) com um alicate, a capacidade de fisgar passando-o com a ponta sobre a própria unha (quanto mais enroscar na unha, melhor). Seja redundante, leve pelo menos 5 tipos de cada anzol escolhido e compre pelo menos 10 tamanhos diferentes pois isso ocupa pouco espaço e será útil para uma infinidade de peixes desde os lambariseiros ou mosquitinhos (que devem ser levados em maior número pois enroscam mais)  que garantirão a forma mais rápida e divertida de se matar a fome, até os de 15 a 17 mm de comprimento e que podem apanhar um peixe de aproximadamente 4/5 kg ou mesmo aves.
Classificação de anzóis segundo o tamanho da haste.

Chumbada- Leve chumbadas em concordância de tamanho e quantidade com os anzóis.
Dica 4 - Se tiver uma latinha de chumbinhos para espingarda de pressão, é um bom local para se transportar os anzóis e chumbadas sem os perder. Caixas plásticas dessas para guardar protetores auriculares também servem e são muito mais compactas podendo, eventualmente, ser transportada na cinta ou no cós do bolso, pois possuem um passador para esta finalidade.
Bóias- Não se preocupe em levar bóias pois ocupam muito espaço e podem ser improvisadas com gravetos secos satisfatoriamente, mas se preferir, pode-se levar algumas dentro das latinhas de chumbinhos. Dê preferência às pequenas pois o material que estará transportando é leve e não está a procura dos grandes peixes dessa vês.

Algumas boias de tamanhos variados. Escolha sempre as menores.

Dica 5- Uma boa forma de se levar esse material todo é preparando-os já com os anzóis e chumbada montados, pois que em uma situação adversa pode ser difícil preparar as linhas e anzóis e poupa muito tempo se estes já estiverem montados em pequenos kits. Para tanto, corte cerca de 2,5 a 3 m de linha e amarre os anzóis em uma das pontas, passe a chumbada através da outra ponta até ficar com uma distância de 4 dedos aproximadamente dos anzóis e amasse-as para ficarem presas, mas não tanto que possa amassar a linha também pois isso gera um ponto de ruptura na linha. Enrole essa pequena linhada em volta de dois de seus dedos e retire-as em forma de rolinhos, passe um pedaço de fita adesiva (eu uso uma fina tira de esparadrapo) em volta do anzol e da chumbada para que não desenrole emaranhando todo o conjunto e inutilizando-o. Faça isso com todos os anzóis e linhas, pois que quando for pescar é só descolar esta fita, amarrar a linhada a uma estaca ou uma vara, iscá-la, arremessá-la na água e esperar que o peixe venha.
Dica 6 – As iscas podem ser conseguidas escavando o solo nas imediações de algum tronco de árvore caído a muito tempo (minhocas), ou mesmo debaixo da casca desse tronco (larvas de madeira podre). Se tiver algum coqueiro por perto, procure por caroços de coquinho caídos recentemente e quebre-os, pois dentro deles é quase certo que encontrará larvas de insetos que se alimentam dessa castanha, se não achar as larvas, o próprio coco pode servir de isca, apenas com menor eficiência.
Obs.: Não fique comendo o verme do coquinho (tapurú) se estiver nessas condições pois a energia que eles poderão dar a você é muito menor do que a deu um peixe assado, essas larvas só devem ser comidas se não tiver meios de usá-las para pescar e mesmo assim, deve-se tomar muito cuidado com as larvas de madeira poder pois podem conter parasitas nocivos ao homem.

Tempero: Pode parecer um exagero, pois quem está no mato deve comer os alimentos do jeito que for possível, mas o fato é que quem já teve que comer algum tipo de carne cozida sem sal sabe que fica parecendo comida de doente, logo, eu carrego sempre no meu kit um frasco desses de filme fotográfico ou um de sal de frutas ENO com sal. O sal é muito útil também para o caso de perda excessiva de liquido em caso de calor excessivo, umedeça o dedo na saliva, coloque-o sobre o sal e passe o dedo sob a língua. O sal dissolverá vagarosamente e isso fará com que o organismo retenha liquido, além de elevar a pressão arterial evitando a exaustão por calor.


Utensílios de cozinha: Dependendo do tempo que vai permanecer no campo, deve-se levar também alguns utensílios que possam ser úteis para condimentar o alimento. Na maioria dos casos o caneco dos cantis deve dar conta do recado sozinho, mas caso queira fazer mais de um alimento, uma pequena panela é de grande auxílio. Eu costumo carregar comigo uma pequena marmita que ao ser destampada, a tampa serve de prato e a alça que a prende se transforma no cabo da panela. Como este tipo de coisa sempre ocupa muito espaço, costumo levar os talheres, juntamente com um frasco com óleo, além de um fogareiro a álcool e um pequeno frasco desse combustível dentro dela. Quanto aos talheres, eu uso sempre os da Aitor que ganhei a algum tempo atrás e que hoje existem algumas réplicas chinesas que darão o mesmo efeito, são bastante compactos e dão conta do recado.

Marmita de alumínio, ideal para um carreteiro para até duas pessoas
Talheres "Cubierto de campo" da Aitor, Muito úteis e compactos.

Fogareiros industriais: Pode-se usar, ainda, um fogareiro a gas ou outro tipo de combustível, pois existem lugares onde não se pode fazer fogueiras, tais como parques municipais, estaduais ou federais ou, ainda, em reservas particulares onde o dono não permite essa prática, então, uma forma alternativa é muito viável. Costumo levar, como já mencionado acima, um fogareiro a álcool feito de latinhas de cerveja, mas são muito pouco eficientes em caso de ventos muito fortes, então, para essas ocasiões, levo um fogareiro a gas da Yanez que tem cartucha descartável, ou, ainda, um fogareiro multi-combustível que pretendo fazer um review futuramente comparando os prós e contras de um ou outro modelo.

Fogareiro Yanez a gás com botijões descartáveis e acendedor automático.

Fogareiro multi fuel BRS-8, funciona com 5 tipos de combustível: gasolina, querozene, benzina, óleo diesel e adapta-se ao bocal de um botijão de gás butano descartável, daqueles que tem rosca na ponta.

Fogareiro BRS-12, funciona com os mesmos 4 primeiros combustíveis do BRS-8, apenas não é acoplável ao gás butano, mas tem a vantagem de ser feito em uma peça única.

As opções de fogareiro acima são somente para ilustrar as opções, eu nunca levo todos eles, a menos que se vá em mais de 4 pessoas e se queira fazer mais de uma opção de refeições, ai então isso será dividido na mochila de cada participante do grupo.
Todos os fogareiros acima tem grande poder calorífico, o suficiente para ferver um litro de água em pouco mais de três minutos ou fazer um carreteito para três ou quatro pessoas em cerca de meia hora a quarenta minutos, dependendo do vento e do tamanho da panela.
Fogareiros à lenha: Existem, ainda, as opções de fogareiros desmontáveis feitos de chapas de aço plana ou tubulares. Esses fogareiros podem ser feitos com a utilização de latas de conserva e de cereais prontos como milho e ervilha, que são fabricados artesanalmente e podem cozinhar da mesma forma que os anteriormente mencionados, apenas mais lentamente, mas também, de forma muiuto mais económica, usando madeira local como combustível.

Fogareiro a gas de madeira feito industrialmente e desmontável para economizar espaço.

Existem, ainda as opções de fogareiros com algodão e parafina, que na minha opinião dá um cheiro bem desestimulante na comida, com vaselina e papelão corrugado, com óleo saturado e papelão corrugado, as espiriteiras do tipo das que o exército usa que podem ser usadas com álcool gel, líquido ou sólido. Enfim, as opções são muitas e você deve optar pela que achar mais prática ou mais fácil de portar ou de encontrar combustível para eles.
Fogareiro com óleo e papelão corrugado. Pode-se reaproveitar o óleo saturado para faser fogo em vez de jogá-lo na natureza.

Veja no próximo e último capítulo deste tema o restante desta matéria.





4 comentários:

  1. Hola Sandro. Algunas líneas sobre las mejoras en el agua: la "desinfección" significa eliminar o remover los patógenos que nos enferman, y se asocia al uso de químicos halógenos como iodo o cloro, pero también se logra mediante filtrado o hervor, en tanto la "purificación" involucra la remoción de químicos orgánicos e inorgánicos, y se asocia a lidiar con cómo se ve, huele, o sabe el agua. No tiene entonces nada que ver con la eliminación de microorganismos perjudiciales. la desinfección es un asunto prioritario en una salida, en tanto la purificación ayuda a hacerla bebible... Por lo demás, se señala que el iodo no elimina el protozoo Cryptosporidium parvum, el cual sí destruye el iodo. Hace pocos días fui a una farmacia a comprar una solución de iodo al 2% y me miraron con rareza... diciéndome que para comprar eso necesitaba una indicación médica: cosas de esta Argentina! Saludo cordial

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  2. Olá Cristian.
    É sempre um prazer ver as vossas participações e desta, me trouxe uma informação realmente interessante pois eu realmente não sabia da ineficácia do iodo em combater o protozoário cryptosporídium parvum e, pra mim, o iodo era tão eficiente no tratamento da água para consumo que é o purificante que eu coloco nos frascos para fármacos das minhas JK I e em frascos que coloco nas bainhas da minha Commando pois além de servir de desinfectante, também serve para machucaduras ou picaduras de insetos, e eu o tinha como tão eficiente que estava até dispensando os famosos clorins que são pilulas de hipoclorito de sódio para potabilização da água.
    Quanto ao uso do termo purificação da água, isso é meio genérico pois se falarmos mesmo em purificação, isso só é conseguido através da filtragem seguida da evaporação e condensação da água pois somente assim iremos retirar partículas como argila e alguns tipos de contaminantes químicos/minerais mais pesados ou leves e ninguém em situação de sobrevivência faz isso pois assim acaba se retirando junto os sais minerais da água e esta vai roubar sais do corpo e eliminar através da urina, deixando o sobrevivente ainda mais desidratado, então esse termo é meio, digamos de emprego genérico como transformar a água em algo que se possa beber sem riscos, mesmo que com sabor não tão agradável.
    Voltando ao iodo, aqui no Brasil isso é vendido nas farmácias como um desinfectante para feridas, portanto, não é controlado mas, vendido normalmente em farmácias populares.
    Um outro agente que é muito bom para a desinfecção da água é o alvejante de roupas ou hipoclorito de sódio na forma líquida e aqui a marca mais famosa leva o nome de "Q-boa", mas hoje está cada vez mais difícil de encontrar em mercados na forma inodora pois na maioria das vezes estão adicionando algum tipo de odor de flores ou coisa que o valha e que torna impróprio para uso na água de beber, na certa porque os fabricantes não querem se responsabilizar quanto aos efeitos que esse material possa causar quando da ingestão humana, mesmo em quantidades tão baixas como o indicado (2 a 3 gotas por litro).
    Abraços.

    Sandro.

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  3. Un gusto conversar e intercambiar sobre el hobby contigo Sandro: con respecto a qué elemento llevar en el kit de supervivencia como desinfectantes para el agua, si bien no tengo experiencia directa con el permanganato de potasio (aconsejado por "Lofty" Wiseman en su libro del SAS...) lo es cierto que sirve para limpiar heridas -sólo se debe diluír en más cantidad de agua) y también.... para hacer fuego! (mezclándolo con presión con glicerina)_ esta polivalencia, junto a tratarse de un material en estado sólido lo convertiría en ideal para un kit pequeño como el contenido en los cuchillos de supervivencia o en los kits mínimos que uno puede llevar cómodamente encima al cinturón.
    Un abrazo cordial

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  4. Hola Cristian!
    É um grande prazer pra mim também estas nossas conversas.
    Quanto ao permanganato de potássio, cada comprimido que é vendido também livremente em farmácias por aqui, serve para desinfectar 20L de água e é muito bom ser bastante preciso nesta medição pois caso não atinja a medida certa de permanganato, pode não ter a eficiência necessária e caso ultrapasse a dosagem, o risco é mais grave pois pode causar intoxicação grave com prurido (coceira), empolamento da pele e, pior, alergia severa no sistema oftalmológico. Embora eu já soubesse dessa característica, eu vi um episódio do programa "largados e pelados" creio que deve ser "desnudos e abandonados" em castelhano, apresentado no canal Discovery e uma participante levou esse elemento como a sua opção de escolha e superdosou a água e quase teve que ser retirada pela equipe médica mas, por fim, o problema se atenuou a partir do terceiro dia e ela pode continuar a sua participação. No entanto, é bom ter muito critério no uso desse elemento.
    Quanto a acender fogo com o uso de permanganato e glicerina, eu tenho tanto um como outro aqui em casa e a dosagem correta é uma gota não muito grande de glicerina sobre dois comprimidos moídos de permanganato. Eu já fis a experiência inúmeras vezes e funciona muito bem, a chama é rápida e logo se apaga, como a chama de um palito de fósforo, mas tem muita pressão e é o suficiente se você tiver uma isca pronta pra jogar sobre ela.
    Em uma certa ocasião minha filha levou isso pra apresentar numa feira na escola e alguns professores ficaram com medo de ser nitroglicerina e explodir a sala.
    Eu tenho aqui o manual do SAS, na verdade tenho dois, um de 2005, se nãome engano e uma versão mais nova de 2016, e são realmente ótimos. tenho também o manual SERE OPERATIONS (Survival Evasion Resistance Escape), dos fuzileiros americanos que tem 652 paginas e também é muito bom, mas o do SAS é inigualável e trás informações que todo praticante de atividade ao ar livre deveria ter noção.

    Um forte abraço

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